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Opinião

Será que o doente vai morrer da cura?

Editorial

No primeiro semestre de 2018, o Produto Interno Bruto angolano a preços constantes de 2002 baixou de 6% face ao mesmo período do ano passado, passando de 782,6 mil milhões Kz para 735,6 mil milhões Kz. Traduzindo do "economês", a economia angolana afundou 6% na primeira metade do ano. O cenário mais provável é termos nova recessão em 2018, a terceira em três anos.

A má notícia comunicada esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística parece dar razão aos Keynesianos que questionam a actual política económica com receio que o doente morra da cura, isto é, que os remédios prescritos pela equipa económica para recuperar a economia acabem por matá-la.

Segundo as propostas do economista John Maynard Keynes, quando uma economia está em recessão, as autoridades do país devem adoptar uma combinação expansionista de políticas monetária e fiscal. No primeiro caso, baixando os juros, no segundo aumentando os gastos públicos. A ideia é estimular a procura e com ela a própria economia. Como fazem os Estados Unidos, por exemplo.

Em Angola está-se a fazer o contrário. Um pouco à moda da política de austeridade europeia.

Os juros subiram, o Kz baixou e os gastos públicos emagreceram. Ou seja, as políticas monetária e cambial e orçamental angolanas são pró-cíclicas, arriscando agravar ainda mais uma economia em recessão.

Apesar de as decisões das autoridades angolanas contrariarem aquilo que dizem os manuais de economia e o que outros países fizeram para combater a crise, não quer dizer que a política económica do Governo esteja errada. Acredito que não está.

As opções austeritárias do Governo, em matéria de políticas monetária e cambial e orçamental, podem parecer tanto mais estranhas quanto se sabe que Angola precisa, urgentemente, de diversificar a sua economia e isso passa por mais crédito e mais barato e mais investimento em infraestruturas.

Mas é só aparência. Se as autoridades utilizassem as políticas monetária, cambial e orçamental para ajudar a economia arriscavam pôr em causa a estabilidade macroeconómica do País - com agravamento das contas públicas, aumento da inflação e ainda uma maior desvalorização da moeda. E sem estabilidade macroeconómica não há crescimento sustentável.

O tempo dirá se Angola fez a escolha certa.


Editorial da edição n.º 495, de 19 de Outubro de 2018, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.