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"É altura de projectar a literatura angolana a nível internacional"

Entrevista a Helena Dias

Foi escolhida para representar Angola numa antologia sobre mulheres negras que será publicada no dia 28 de Fevereiro, no Brasil. O seu primeiro livro está na gaveta, desde 2015. Por falta de patrocínios, Helena Dias financia sozinha a sua publicação.

Como chegou ao projecto "Negras de lá, Negras daqui"?
O convite para participar na Antologia foi feito por Isidro Sanene, coordenador do projecto, depois de ter participado na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro.

O que a diferenciou de outras autoras para que fosse escolhida para representar Angola na Antologia Internacional de mulheres escritoras negras África-Brasil?
Houve um processo selectivo. Foram seleccionadas artistas, cujo percurso o projecto Raízes tem acompanhado e com forte relacionamento com aspectos da identidade africana.

Que características singulares serão destacadas sobre a mulher africana?
Serão destacados o amor, que é uma característica intrínseca a todas as mulheres. Outro ponto importante é o esforço das mulheres africanas para a ascensão e auto-afirmação no mundo.

Considera necessária a criação de "ciclos" para abordar a negritude?
Sim. É necessário para reflectir em torno do processo criativo da arte africana, rebuscar o nosso conceito, a nossa identidade. Temos uma cultura rica e pessoas dispostas a trabalhar em prol da sua preservação e massificação. O projecto Raízes surge nesta perspectiva. Mais do que abordar a negritude, actua como elo entre os vários intervenientes da cultura negra.

Não estaremos a falar em segregação?
Não se trata de um processo de segregação, é a auto-afirmação do negro no mundo, começando com a mulher pelo facto de algumas viverem à volta de conflitos de género. A antologia dá visibilidade às produtoras, escritoras negras, muitas vezes, ofuscadas pelo racismo sistemático que o mundo acolheu.

Tem um livro pessoal a ser preparado. O que retrata?
O livro é "Ressurreição", um romance. Retrata a vida de dois jovens, que lutam contra as adversidades da vida. Ela é moradora num bairro periférico de Luanda, que luta para ascender profissionalmente, e ele é um artista plástico perdido no alcoolismo por culpa de um amor do passado.

Há quanto tempo projecta o lançamento do livro?
Está a ser projectado desde 2015, ano em que o escrevi.

O que tem atrasado a sua publicação?
Faltam patrocínios. Por essa razão, estou a trabalhar com capital próprio no processo de produção do livro, o que torna o processo mais lento.

Onde produz o livro e porquê?
A produção do livro está a ser negociada com uma editora estrangeira, em função do alto custo de produção de livros no País.

O que despertou o seu interesse para a escrita?
Há alguns anos, quando me julgava anti-social, usei a escrita como fuga às pessoas à minha volta, mas ela teve um efeito contrário. Uniu-me mais a elas. É o propósito da arte, unir e nunca separar.

Como é que a crise económica trava a realização dos seus projectos?
A crise económica é um factor interessante, porque tem vantagens e desvantagens. Tem sido difícil criar e gerir projectos num momento como este, mas não é nem será impossível continuar os trabalhos que tenho em carteira.

A literatura pode contribuir para a diversificação da economia?
Claramente que sim. Precisamos olhar para a literatura de forma diferente, como uma fábrica de ideias e acções promissoras. A literatura está em franco crescimento no País, porém é também a altura para a projectarmos a nível internacional e abrir caminhos para o crescimento económico por esta via. Os livros criam homens fortes, maduros e competentes, não podemos esquecer que é das maiores fontes de conhecimento que existe, não é por acaso que os chamam mestres mudos.

"Ressurreição" lança Helena Dias no mercado literário

Natural de Luanda, Helena Dias ocupa os tempos livre com leitura e, agora, está a ler "Pedaços da História" de Katya Santos, depois de ter lido "Foco" de Daniel Goleman. A boa música e a conversa com amigos é algo que também gosta de fazer. Como bebida preferida, escolhe o sumo de laranja, para acompanhar qualquer prato de comida, inclusive o bolo de chocolate, a que não resiste. A escritora descreve-se como cozinheira de mão cheia, principalmente a preparar pratos típicos de Angola.

Solteira, Helena Dias tem a licenciatura em Comunicação Social e trabalha como relações públicas e na gestão de páginas nas redes sociais. Considerava-se uma pessoa antissocial, por isso, procurou na escrita o escape para "fugir" às pessoas, fuga que acabou por a aproximar do público. Em carteira, a jovem tem o lançamento do seu primeiro livro "Ressurreição", um romance com lançamento previsto para Maio e cuja publicação será custeada por fundos próprios.