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Opinião

Vem aí a austeridade a sério!

Editorial

Com o fim da subsidiação estatal à electricidade, água, combustíveis e transportes públicos até 2020, acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com o Banco Mundial com o propósito de diminuir despesa, aproximam-se tempos difíceis para a maior parte da população angolana.

Assim, à primeira vista, mesmo com a implementação de programas sociais acordados com as instituições sedeadas em Washington será muito difícil lidar com o que aí vem, num País em que um em cada três cidadãos vive em pobreza extrema, de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Cinco mil Kz por mês durante um ano para 800 mil famílias, quando se sabe que em Angola os agregados familiares têm, em média entre quatro a cinco pessoas, dificilmente chegará para alimentar a "cova de um dente". Mesmo que os aumentos de preços cheguem de forma gradual, como é suposto.

Quanto custa hoje a um trabalhador que more num dos Zangos deslocar-se para o centro de Luanda de táxi? E quanto custará lá para meados de 2020 quando forem ajustados os preços dos combustíveis? Se hoje esse trabalhador gasta, na melhor das hipóteses, 1 000 Kz, na ida e no regresso, quanto custará depois de serem reflectidos na gasolina e no gasóleo os preços a que o País compra os combustíveis nos mercados internacionais? E as facturas da electricidade dentro de meses? Numa altura em que o País, mais do que nunca, precisa da diversificação económica, como vai a indústria suportar o ajustamento dos preços da energia? Isto num País em que a maior parte das fábricas vive à luz de geradores.

É preciso ter em conta que é precisamente nos sectores da electricidade, água (ajustamentos foram aplicados no ano passado) e combustíveis que os efeitos sobre a população terão um efeito bola de neve. Nada se faz sem um destes bens essenciais. E, com tudo isto, adivinham-se aumentos nos bens alimentares.

Não esquecer que os trabalhadores continuam a perder poder de compra desde 2014. O reajuste este ano, em 30%, dos salários mínimos do sector privado não foram suficientes para evitar uma perda do poder de compra de 43,4% desde o início da crise, em 2014, já que os dois aumentos operados desde essa data estão bastante abaixo da inflação. Não esquecer também que a inflação é um imposto escondido, já que os aumentos dos salários não têm acompanhado o ritmo de crescimento dos preços, corroendo o poder de compra dos trabalhadores.

Desta forma, resta-nos esperar que os programas do Banco Mundial e do próprio Governo sejam "milagrosos" e impeçam uma catástrofe social em Angola, onde a maior parte da população vive há demasiado tempo numa crise financeira de que não tem culpa.


Editorial da edição n.º 519, de 12 de Abril de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.