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Opinião

Não há soluções mágicas, apenas práticas realistas

Editorial

O Orçamento Geral do Estado Revisto para 2019 já está na Assembleia Nacional. As receitas têm uma revisão em baixa, cerca de 9%, que resultam de uma estimativa mais realista do preço por barril de petróleo, que passou dos 68 USD por barril para os 55 USD, e de uma produção de 1,57 milhões de barris/dia para 1,43 milhões.

Se relativamente ao primeiro factor, na verdade o País não o pode controlar, relativamente ao segundo é mais difícil de compreender como há seis meses, numa altura em que a produção de crude já estava abaixo deste valor, alguém pudesse pensar, tendo em conta a nossa realidade, que seria possível aumentar este valor. Isto é reflexo de uma prática que se generalizou nos nossos ministérios, em que os objectivos quando apresentados são sistematicamente sobreavaliados (quer numéricos ou temporais), criando a falsa ilusão aos envolvidos de eficiência, grau de realização, trabalho e profissionalismo.

Existe uma diferença clara entre os valores e as condições apresentadas na cerimónia de lançamento e o obtido no final da empreitada ou do programa. Desde as coisas mais simples, como a estimativa do valor recolhido com a taxa automóvel ou da produção de batata doce de um município, até às mais elaboradas, como o Programa de Modernização da Economia ou de Apoio Social.

Pode questionar-se se isto se deve à fraca qualidade dos técnicos envolvidos, ou se é apenas o tal mal que enferma quem decide, mostrar serviço em projecto, confiando que os sistemas de controlo nunca vão funcionar depois da implantação. E nas raras vezes em que é preciso prestar contas, a conjuntura internacional, as condições especiais de Angola, a falta de divisas ou a baixa do preço de petróleo aparecem como justificações. E se estas não são suficientemente convincentes, retomam-se as desculpas do passado - os anos de guerra ou o colonialismo.

O apelo que se faz nesta nova fase do País é que tenhamos coragem de assumir as nossas fraquezas, os nossos erros, para que possamos perceber como os vamos resolver. O País faz-se com capacidade, mas também com coragem de olhar directamente para os problemas. E de não nos contentarmos com soluções mágicas, mas antes com práticas realistas.

O factor multiplicador mais importante do crescimento económico não faz parte das equações matemáticas que sustentam esta ciência - a confiança. As variáveis que o acompanham também não se ensinam nas aulas de matemática - rigor e credibilidade. Por isso não vale a pena elaborar grandes e bonitos programas de investimento, nem pensar em gerar riqueza, se não se cuidarem destes "pequenos" pormenores. (...)

Editorial da edição n.º 523, de 10 de Maio de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.