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Opinião

A "panela da sopa"

Editorial

Foi publicado esta semana em Diário da República a lei das privatizações e a lei das parcerias público-privadas, que servirá de base à abertura de um novo ciclo no nosso tecido económico, onde algumas das empresas emblemáticas do País podem passar para as mãos dos privados. Vai certamente sair deste processo o reforço de uma classe empresarial já existente, mas também é de prever que já se estejam a preparar novos agentes económicos para aproveitar a "ocasião".

Alguns dos que no passado não tinham acesso à "panela da sopa", poderão agora sentar-se à mesa e usufruir também da refeição. Durante algum tempo, para estes jantares eram apenas convidados uns quantos, por razões familiares ou de amizade leal, num processo que passados uns anos até ganhou um nome extremamente pomposo - acumulação primitiva de capital. Justificada em discursos, e mesmo em "obras" literárias, como fundamental para a afirmação da nossa independência e único caminho para o desenvolvimento. E muitos de nós acreditámos nisto.

Agora quando se avança com a possibilidade de novas áreas serem abertas a novas pessoas, a lei publicada vai logo á partida restringir o acesso à mesa daqueles que estejam envolvidos na preparação da "sopa", familiares directos, ou funcionários envolvidos nos "serviços" da cozinha. Mas na verdade estabelece apenas parâmetros e deixa em aberto aos promotores de cada processo margem suficiente para a escolha dos "ingredientes", pelo que se espera bom senso por parte dos "cozinheiros".

Para já, a primeira refeição não correu muito bem. Alguns dos clientes interessados afastaram-se ainda durante a preparação, acusando os responsáveis de práticas que ponham em causa a qualidade o produto final. No dia escolhido para servir a dita "sopa" estava apenas um cliente à mesa, que naturalmente acabou por ficar com a panela sem grandes dificuldades. Muitos discursos, fotografias e opiniões. Poucos esclarecimentos sobre os ingredientes e o modo de preparação. Com a multiplicação da contestação à forma como tinha sido servida esta refeição, o responsável do restaurante foi obrigado a intervir. Levou a panela de volta para a cozinha e decidiu - "vamos fazer outra sopa". E o processo voltou ao início.

É importante para todos que esta segunda tentativa corra bem. Para a credibilização dos processos que vêm a seguir, para que os melhores clientes nacionais e internacionais se sintam motivados a sentarem-se à mesa. A valorização da "sopa" que temos para oferecer passa muito pela explicação clara da receita que vamos usar. A cozinha tem que estar no meio da sala, para que não haja dúvidas do que está a ser feito, para que todos saibam a forma como se está a cozinhar.

A porta do restaurante tem que estar aberta a todos, embora seja igualmente importante que se obrigue a controlar com rigor as condições necessárias para os clientes se sentem à mesa. E já agora, também que se feche a porta da cozinha. Para que ninguém possa entrar de repente, a meio da refeição sem avisar, e se sente na mesa sem passar pelo controlo dos porteiros.

Editorial da edição n.º 524, de 17 de Maio de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.