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Opinião

Todos temos de acreditar

Editorial

As reservas líquidas continuam a baixar e já só chegam para cinco meses das nossas importações. A dívida também está a aumentar e, tal como acontece nas nossas casas, estamos a gastar mais do que ganhamos.

Ou comemos menos ou mudamos de emprego. Não vale a pena dizer que a culpa é da chuva, do táxi, do trânsito, ou de outra condição que não dominamos. Isso não vai aumentar os pacotes de arroz na despensa, nem fazer crescer os rendimentos da família. Sem cortar alguns dos nossos "luxos" e mudar comportamentos, não é possível mudar nada.

Mas, claro, a saída à sexta-feira à noite com os amigos é "sagrada", o whisky no bar da Belinha, também, o relógio que vem do Dubai e o perfume de Lisboa, igualmente. Arranjamos sempre outras soluções para poupar, mantendo a mesma vida. E à medida que formos cortando apenas nas refeições, maior será a contestação da mulher e dos filhos, e se a coisa se arrastar durante muito tempo, os filhos fogem de casa e a mulher vai viver com a mãe. Ou, em última instância, unem-se e são eles que correm connosco da casa.

Isto transportado para o País significa que, se não caminharmos para baixar as despesas com pessoal, que valem 25% das despesas correntes, não fizermos um esforço para cortar nas compras de bens e serviços, baixando orçamentos de instituições que apresentam valores elevadíssimos para a nossa realidade (de que é exemplo a Assembleia Nacional que gasta anualmente 34 mil milhões Kz), se não houver o cuidado de acabar com as mordomias das administrações públicas e, de uma forma objectiva, "cortar" nos Encargos Gerais do Estado (são já quase 6 biliões Kz), dificilmente podemos equilibrar a nossa casa.

E é também importante dar sinais claros de que o momento é de crise. Cortar na despensa em casa e sair para a rua com sapato italiano novo não vai resultar. Ostentar boa vida e pedir sacrifícios não resulta durante muito tempo. Passear as nossas gorduras nas televisões e nos jornais, e depois pedir à família para comer menos, pode trazer problemas.

O momento é de crise, todos sabemos. Que só será ultrapassada com um espírito de grupo e de coesão nacional. Mas a família tem de acreditar. E não basta falar. É preciso fazer coisas concretas para recuperar a sua confiança. A História recente deixou os nossos parentes muito desconfiados, e da mesma forma que voltaram a acreditar, rapidamente podem ser absorvidos por um sentimento de enorme frustração.

É sobre esta linha que estamos. Pedem-se acções! Mais do que justificações. O tempo dos discursos chegou ao fim. Vamos lá garantir que os nossos filhos não fogem e que a mulher não vai viver para casa da mãe.


Editorial da edição n.º 525, de 24 de Maio de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.