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"O papel do gestor de recursos humanos ainda não é valorizado como devia"

Gláucia Donda

Ao mergulhar no mar das letras, Gláucia aborda a gestão de recursos humanos como uma questão de amor em livro. Para a técnica de recursos humanos, a situação económica do País tem solução e a crise é uma oportunidade para os profissionais da área.

Lançou esta semana, em Lisboa, o livro Gestão de Recursos Humanos: Uma questão de Amor. Em que contexto surge este livro?
Surge num momento da vida em que procurava emprego e não encontrava. Assim, só me restavam duas opções: ou desistia de Angola e regressava à Europa, ou fazia alguma coisa para me distrair. O livro surge como um passatempo. Eu pretendia escrever algo inédito à luz dos Recursos Humanos, na época, sem interesse algum em publicar, entretanto, os meus primeiros leitores fizeram-me entender que este conhecimento deveria ser partilhado.

Quais são hoje os principais desafios dos Recursos Humanos em Angola?
Investir em capital humano, ganhar o comprometimento do colaborador e praticar salários justos face e seleccionar os colaboradores certos para as vagas certas, isto porque dificilmente um colaborador entra no mercado de trabalho directamente para o que se especializou. Isto é algo preocupante e deve mesmo ser avaliado, até para diminuirmos o fenómeno de "zungueiro contratual" que observamos no mercado de emprego angolano.

O mercado de trabalho em Angola é competitivo?
É bastante competitivo! No entanto, ainda há necessidade de descentralizar essa competitividade, reorganizar as ideias, as metas e os focos. Angola está numa posição injusta perante muitos países, pois teve de renascer das cinzas após a declaração de paz. Então, começou esta competição moderna dos mercados, um pouco tarde, por isso, ainda cometemos deslizes.

Os licenciados em Angola estão a ser suficientemente capacitados para o mercado de trabalho?
A resposta a esta questão não pode ser linear e generalizada, no entanto, percebo que a exigência académica já teve melhores dias. Os alunos hoje estudam menos do que deviam, ou seja, estudam para o imediatismo e não tanto para a vida. Há uma inquietação por parte dos professores de combater esta utopia do conhecimento e uma maior preocupação em responder de forma efectiva para a necessidade destes estudantes perceberem que serão os profissionais e pesquisadores das ciências humanas como resposta aos factores financeiros em Angola.

Como descreve a importância da gestão das pessoas nas empresas?
Total! O gestor de recursos humanos (GRH) de hoje é o principal parceiro das hierarquias. Mais do que gerir processos administrativos, gere mentalidades, formações, vontades e carreiras. O GRH tem a responsabilidade de parecer o que é: hospitaleiro, dinâmico, ousado, precisa ser crítico, disciplinado e tem a incumbência de dosear a paciência, desafiar os preguiçosos.

Há alguma preocupação dos empresários nacionais com a satisfação dos seus colaboradores?
Sim, já há, sem dúvida. No entanto, o lugar do GRH nas empresas, sobretudo públicas, ainda não é tão valorizado quanto devia, o que, por vezes, limita o seu campo de actuação. Muito devido ao facto de, até há bem pouco tempo, cerca de 15 anos, quem fazia este papel eram colegas emprestados de outras áreas do saber, direito, sociologia, contabilidade. O processo mudou. Já há uma vasta comunidade de recursos humanos em Angola que procura mudar esse quadro e produzir resultados na moderna gestão de capital humano.

Que factores garantem a motivação e compromisso dos colaboradores?
Salário justo e sentimento de pertença. Tendo estes dois factores é muito mais simples gerir pessoas, criando estímulos de competitividade empresarial e desenvolvimento interno.

Que resposta se pode obter do RH em situação de crise financeira?
Investimento em capital humano. Capital humano é investir tempo e dinheiro nas pessoas para que elas produzam resultados financeiros. A competência alinhada ao amor é a minha ferramenta de diferencial competitivo. Para um País mais digno, um desenvolvimento sustentável, e uma vantagem competitiva, os GRH devem estar prontos para gerir a mudança e contribuir para reversão da crise financeira em Angola.

Como avalia a actual situação económica e financeira do País?
Tem solução. Mas a solução vem da base da vida: o amor. Em Angola, vive-se uma crise, por falta de planeamento unilateral, visão única e conjunta de objectivos e, principalmente, por não se incutir o amor nas formas de trabalhar, trabalhar por amor ao próximo. Este é um País emocionalmente forte. As pessoas colocam emoção em tudo, todavia, canalizam as emoções para as questões negativas com maior vínculo. Resultado disso, temos uma sociedade apostada no seu próprio ego e recompensas individuais dando primazia e, depois, caso reste alguma coisa, distribui a outros.

Que impacto tem a crise em áreas como os recursos humanos?
Alguns vêem como limitação e causa para despedimentos. Eu vejo como oportunidade de os GRH trabalharem para serem reconhecidos como fundamentais no desenvolvimento de técnicos e superação de dificuldades.

Falta orientação profissional aos estudantes universitários

Gláucia Donda nasceu em Março de 1991, em Luanda. Mestre em Políticas de Desenvolvimento de Recursos Humanos, entra no mercado editorial com o livro "Gestão de Recursos Humanos: Uma Questão de Amor". A jovem considera que falta orientação profissional para melhorar a capacitação dos estudantes em Angola.

"Como docente, a primeira pergunta que faço aos alunos, é: porque escolheu este curso? E não consigo atingir a maior parte de respostas, como estando por interesse. Para a também docente universitária, "esta falta de orientação profissional leva os profissionais a confundirem "quem sou com o que sou", o que acaba por ser um problema para o gestor de RH. Não significa que o colaborador não vai fazer bem o seu trabalho. Significa que estamos a perder um bom técnico numa área que não é a sua", justifica. Depois de Lisboa, o livro é lançado em Luanda a 7 de Junho, revela a autora, que faz da escrita e viagem os seus principais hobbies.