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Opinião

Um ano difícil

Editorial

Esta é a nossa última edição de 2019. Só voltamos a publicar o jornal no próximo dia 10 de Janeiro de 2020. Um ano difícil para o País e para os cidadãos, em que todos os que vivem de um salário estão mais pobres "por culpa" da desvalorização do kwanza, o aumento da carga fiscal e uma taxa de inflação que disparou nos últimos meses (só o INE é que não viu).

Esta perda de qualidade de vida por parte da classe média e baixa criou uma onda de contestação que pode trazer custos políticos ao partido da maioria nos próximos actos eleitorais. Muitos destes protestos, legítimos diga-se, também têm sido aproveitados por uma elite que perdeu algumas das suas benesses, que continua muito rica, mas que agora quer armar-se em vítima de um processo que tem afectado a maioria dos angolanos, mas não eles.

Aliás, o tempo irá confirmar, mas fica a ideia que os mais fervorosos descontentes de algumas reformas que estão a acontecer na economia, eram inevitáveis porque o País não podia continuar na mão de meia dúzia de pessoas, que mantêm o mesmo estilo de vida, a mesma arrogância e o mesmo património.

Na luta contra a corrupção, a maior bandeira do Governo de João Lourenço, pode dizer-se, no mínimo, que o processo não tem andado com a velocidade e com os resultados que muitos de nós desejávamos.

Mas alguma coisa tem sido feita. Existe nesta "batalha" uma coisa que verdadeiramente me incomoda, é a tendência para a desculpabilização daqueles que de forma indevida "roubaram" os recursos do Estado com argumento que todos beneficiaram. É Mentira! Conheço gente que teve oportunidade de pôr a mão no "caldeirão da sopa" mas que nunca abdicou dos seus princípios e dos seus valores. Por isso não foram todos, se calhar muito poucos, mas para honrar os que se preocuparam com os seus cidadãos, quem cometeu peculato, deve acertar as suas contas com a Justiça. E ter obviamente oportunidade de se explicar. Mas seria um péssimo exemplo para todos os angolanos, fingir que nada disto aconteceu.

Também não aceito o argumento de tentar tornar esta luta contra a corrupção como uma questão política, entre o anterior e o actual regime. Então as pessoas que têm sido acusadas pela Justiça não têm milhões de dólares em paraísos fiscais e em bancos internacionais, dezenas de casas espalhadas pelo País e pelo estrangeiro, participações em empresas que negociavam directamente com as instituições do Estado que tutelavam?

Pode argumentar-se que não são os únicos, mas isso não os pode inocentar. Preocupa-me verdadeiramente que o ano 2020 possa tornar-se o ano da impunidade, que se chegue à conclusão que afinal os angolanos são todos corruptos e como tal não é justo responsabilizar quem quer que seja. Espero que a nossa Justiça dê um sinal forte de independência e não se deixe influenciar por estas ondas de que afinal ninguém fez nada de ilícito e que todos estavam a cumprir ordens superiores.

Editorial da edição 555 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Dezembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.