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Opinião

Agora é olhar para dentro

Editorial

O Presidente João Lourenço fez 29 viagens oficiais ao estrangeiro em 29 meses. A estas juntam-se mais algumas a título pessoal, umas em férias, é verdade, mas outras para tratar assuntos do País. Esta é uma enorme diferença face ao anterior presidente, mas também reflecte a opção estratégica desta nova governação.

Primeiro que tudo convencer o mundo que estamos mesmo a mudar, que agora são outros tempos, e que já agora, também nos ajudem porque se vamos mexer em interesses económicos instalados, precisamos de "tesouraria" e "investimento" para o País continuar a andar. E, na verdade, parece que esta missão foi bem conseguida. Lá fora, nos palcos internacionais, gostam desta "música", em termos políticos as respostas são muito positivas, em termos de investidores, pelo menos, a dúvida da mudança coloca-se.

Faltará certamente "deixar cair" alguns fundos de investimento de confiança duvidosa que ainda circulam nos corredores do Palácio, para que a comunidade financeira internacional acredite que é mesmo a sério. Mas isso ainda tem a ver com "velhos" circuitos e hábitos, porque na verdade os fatos mudam rapidamente, mas a cabeça demora mais tempo. Também existem compromissos, alianças, alguns "pendentes", e certamente que, com o tempo, tenderão a ser menos fortes e mesmo a esbater-se. Pelo menos, eu acredito nisso.

Estamos a meio de mandato, agora é preciso olhar para dentro. João Lourenço já iniciou esse trabalho, o seu partido também, multiplicam-se as visitas de campo em Luanda, onde os últimos resultados eleitorais foram apertados, mas também com saídas para as províncias de "maior" expressão - Benguela, Huíla, Malange e Bié. Apesar do desgaste provocado pela quebra das condições e nível de vida da maioria dos angolanos, o Presidente ainda tem margem para, internamente, recuperar os indecisos e poder ter um bom resultado num possível segundo mandato.

Mas precisa de tempo e de alguns factos objectivos para capitalizar essa confiança, sendo que o MPLA sabe que não terá esse tempo até ao final do ano de forma a apresentar-se como favorito às eleições autárquicas. Precisa que o Presidente "puxe" pelo eleitorado. E isso pode explicar alguns factos e a estratégia do partido da maioria relativamente à implantação mais lenta do quadro legislativo completo para a realização das primeiras eleições autárquicas.

Resumindo, o caminho para a mudança continua, os estrangeiros estão mais convencidos do que os angolanos, mas há espaço para recuperar internamente, sendo que as eleições autárquicas muito dificilmente vão acontecer este ano. As previsões não se fazem em Fevereiro, eu sei, mas ficam as minhas. Veremos....


(Editorial da edição 563 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Fevereiro de 2020, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)