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Opinião

O paradoxo do investimento chinês em Angola

Convidado

A forma como o investimento chinês foi apresentado, como sendo o único disponível para atender às gritantes necessidades de reconstrução do País, depois de 27 anos de guerra, numa conjuntura em que, destacava-se, as instituições multilaterais e os países acidentais não se apresentavam disponíveis para financiar o processo de reconstrução nacional e da transformação estrutural, foi abraçado sem grande questionamento sobre a eficiência dos mesmo e, possivelmente, dos seus impactos no médio longo prazo sobre o desenvolvimento País.

Contudo, existia a expectativa de que, com os níveis de investimentos, o País deveria entrar numa rota de colisão com o ciclo da pobreza que herdou dos 27 anos de guerra civil - reduzidos níveis de rendimentos médios, baixas taxas de poupança, reduzido nível de capital humano e baixa produtividade dos factores - e entrar para um ritmo de crescimento económico sustentado e de alteração estrutural, com o incremento dos níveis de rendimentos médios, aumento da poupança nacional - pública e privada -, aumento do capital humano e incremento da produtividade dos factores.

Nestes termos, o financiamento mobilizado no período pós-guerra foi apresentado como condição necessária para criar as condições de arranque do País. E, como registado nas Contas Nacionais, entre 2002 a 2017, o País registou taxas de crescimento relevantes, 6,1% - com particular destaque para o período 2002 a 2008 -, com o investimento a contribuir, em termos médios, em 1,3 pontos percentuais. Portanto, por aí, conseguiu-se responder que o País deu o arranque.

E, entre as fontes de financiamento do investimento, destaca-se o que veio da China - hoje consegue-se perceber que foi mais pelas condições do que pelos montantes -, avaliado em mais de 43.154 milhões USD, numa média anual de 2.547 milhões USD, segundo dados disponibilizados pela Universidade John Hopkins.

Pelos dados disponibilizados, os investimentos com origem na China parecem não ser tão expressivos quanto o que o discurso oficial aparentava mostrar, sendo que até ao ano de 2015 - o ano de 2016 foi a excepção, tendo sido registados 19.345 milhões USD - o financiamento representou, em termos médios, 1,7% do PIB. Os montantes, pelos níveis de investimentos apurados no período em referência e à luz dos desafios da economia e da relevância que lhe foi conferida, parecem ser negligenciáveis. Mas o mesmo não pode ser dito das condições legais e diplomáticas em que os mesmos estavam envoltos, o que necessariamente impôs barreiras implícitas à entrada de outros investidores no País, fundamentalmente naqueles sectores em que os investimentos chineses tinham maior expressividade.

A blindagem do investimento com origem na China, de força explícita e implícita, estava a ser impulsionada pelas expectativas de que seria a bóia de salvação do País para estimular o surgimento de infra-estruturas pelo País, num esforço para incrementar a competitividade territorial e impulsionar taxas de crescimento da economia mais sustentáveis e inclusiva.

O investimento chinês, pela relevância política que lhe foi conferida, trouxe consigo a expectativa de (poder) estar a financiar a alteração da estrutura da economia, através da melhoria do ambiente de negócios, alteração da imagem do País - Reconstrução e construção das principais infra-estruturas destruídas durante a guerra - nos mercados externos e na criação de um sistema de governação corporativa mais assertivo, num esforço para atrair e manter o investimento privado de outras geografias que pudessem impulsionar o espírito empresarial interno, potencializar-se a capacidade produtiva e a construir bases fortes para a criação de emprego, ao mesmo tempo que criava amortecedores aos choques externos.

*Economista

(Leia o artigo integral na edição 591 do Expansão, de sexta-feira, dia 11 de Setembro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)