Hora da poupança
Os acordos com o FMI e a China vêm trazer algum alívio, mas não resolvem o problema. Até porque, contrariamente ao que alguns tentam passar, moratória significa apenas pagar mais tarde, e aumento da "ajuda" é, na verdade, aumento da dívida. Até porque, quando falamos destas duas entidades, é mesmo para pagar, nem que sejam os nossos filhos ou os nossos netos. Ou seja, a ideia que muitos dos gestores desenvolveram internamente nas relações comerciais entre si, que "adiar é não pagar", "recebe primeiro que depois logo se vê", ou "não pago e não tenho medo de ninguém", não se aplica no contexto da finança internacional.
Por isso, num momento como este, em vez de abrir as garrafas de champagne, a postura é redobrar a poupança, manter o aperto nas despesas e pensar mais no futuro do que nos próximos dois anos, onde na verdade haverá um desafogo financeiro. Mas, a partir de 2023, as nossas obrigações com o serviço da dívida voltam a crescer, de forma significativa, e se não tivermos rendimentos suficientes para pagar, então, é o próprio País que pode estar em causa. Temos dois anos para dar um salto, em termos de produtividade e geração de riqueza. E já estamos atrasados uma décadas.
É verdade que se deu destaque ao facto de termos recebido já na quarta-feira um "cheque" de mil milhões de dólares, mas só no Diário da República de 11 de Setembro estão autorizadas despesas de quase 350 milhões - 161 milhões USD (100 mil milhões kz) de verba suplementar para o Ministério da Defesa, 132 milhões USD (81 mil milhões kz) para o Ministério do Interior, 39 milhões USD para iniciar o projecto de requalificação da baía do Namibe (vai custar 600 milhões) e 17,4 milhões USD para serviços de consultadoria na Sonangol. E ainda se abriram concursos para contratar assessoria para o Fundo Soberano, e para mais duas obras no Cuanza. Numa linguagem corrente, em apenas um dia, "gastámos" 35% do que recebemos do FMI e preparámos as condições para fazer mais gastos. Claro que todas estas são despesas essenciais para a vida do País. Obviamente.
Tal como acontece nas nossas casas, não podemos gastar mais do que temos, isso já o Governo fez durante muitos anos, não podemos pedir emprestado mais do vamos poder pagar, isso também nos aconteceu, e também não podemos continuar a fazer "vidas faustosas" com dinheiro que não é nosso. Acaba sempre mal. Na nossa vida, e também, na vida das Nações. Aliás, para mudar este paradigma do consumismo, a sugestão é que as instituições do Estado comecem a comunicar pelo lado da despesa. Em vez do habitual "este ano facturámos", um simples "este ano poupámos". A utilização correcta dos recursos disponíveis é a chave para o crescimento de Angola. E, já agora, que essa utilização se estenda a todos e não apenas aos familiares, amigos ou membros do mesmo clã.