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Angola produziu 27,2 mil barris de petróleo por dia acima da sua quota

Fruto do acordo da OPEP+, de Maio a Agosto

Angola produziu, em média, 27,2 mil barris de petróleo por dia acima do acordado com os membros da OPEP+ de Maio a Agosto. O País cortou a produção de petróleo numa média de 41,7 mil barris por dia, de Maio a Agosto, por causa do acordo de cortes de produção da OPEP+, que visa reduzir a oferta de petróleo para favorecer os preços, que, em Abril, alcançaram o preço médio mais baixo da década, 18,4 USD por barril, apurou o Expansão. Fruto do maior acordo de cortes da oferta de crude de sempre, um grupo de 23 países que integram uma coligação de produtores designada por OPEP+, liderado pela Rússia e Arábia Saudita, concordaram em reduzir a oferta mundial em cerca de 10% de Maio a Julho, sendo os cortes gradualmente reduzidos até 2022.

De acordo com dados da OPEP, fornecidos por fontes secundárias que são considerados nos cálculos dos cortes, Angola começou a reduzir a produção gradualmente em 33, 57, 37 e 40 mil barris dia (face à sua quota de produção) de Maio a Agosto, mas, mesmo assim, no final deste período, está com um excedente, em média, de 27,2 mil barris dia.

Após a reunião do Comité da OPEP, que monitora os cortes dos membros do cartel em Julho, a Arábia Saudita, que se viu forçada a cortar a sua produção para além dos 8 milhões de barris como se havia comprometido, ameaçou os países membros incumpridores que se não se ajustassem iria reduzir significativamente o preço do crude e vender aos clientes destes países deixando-os sem espaço para escoar o seu crude. No mesmo mês, a OPEP deu uma moratória aos países membros incumpridores para colocarem menos petróleo no mercado para, até finais de Setembro, compensar a quantidade de crude que colocaram no mercado durante os 3 meses de vigência do acordo.

Segundo os dados do relatório da OPEP, que monitoriza o mercado de petróleo, publicado este mês, Angola respondeu a esta "ameaça" cortando a produção em 37 mil barris dia, em Julho, face ao mês anterior, caindo para o menor valor de produção da última década 1,186 milhões de barris por dia. De acordo com cálculos do Expansão, para cumprir a meta de compensação "imposta" pelo cartel, Angola teria de cortar a produção neste mês em 109 mil barris por dia, produzindo 1,141 milhões de barris por dia.

Uma fonte do Ministério dos Recursos Minerais Petróleo e Gás revelou ao Expansão que Angola tem um declínio natural de 15% e a razão que levou o País a não cumprir os cortes acordados com a OPEP é que se o fizesse da forma como foi acordado com a OPEP, Angola chegaria ao final do ano a produzir muito abaixo dos 1.180 mil barris de petróleo por dia da primeira fase, que terminou em Julho.

De acordo com o colaborador do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (CEIC), José Oliveira, contrariamente aos cortes anteriores, que não afectavam o País, o corte actual é de uma dimensão nunca antes vista e, por isso, o esforço para reduzir os milhões de barris/dia que chegavam ao mercado "desta vez também atinge Angola, mas em muito menor escala do que aos outros membros da OPEP, devido ao contínuo declínio da nossa produção".

José Oliveira nota que Angola tem até Julho um limite de produção de 1,18 milhões de barris por dia (mbd). Como em Abril produziu 1,35 mbd tem de cortar 170.000 mbd, o que equivale a 13% da sua produção enquanto a maioria dos países da OPEP tem de cortar 23%.

Ainda de acordo com a fonte, entre Agosto e Dezembro deste ano, Angola só pode produzir 1,25 milhões de barris por dia, pelo que tem de cortar cerca de 100.000 mbd, ou seja 7% da sua capacidade de produção, enquanto os outros países cortam 18%.

Entre janeiro de 2021 e Abril de 2022, Angola passa a ter um tecto de 1,32 milhões de barris por dia, que, devido ao declínio da nossa produção, deverá ser o máximo da nossa capacidade na altura e, portanto, não terá de cortar enquanto os outros países vão cortar 14% porque não estão em declínio.

"Em suma, o declínio da nossa produção beneficiou-nos imenso, reduzindo os cortes que temos de fazer em comparação com os restantes membros da OPEP", resume José Oliveira. Quem não concorda com esta posição é o economista Alves da Rocha, também do CEIC, que defende que "Angola perde uma variável importante de gestão das receitas petrolíferas, tão fundamentais em épocas de escassez de dinheiro".

PREÇO DO PETRÓLEO VOLTA A SUBIR

Os preços do petróleo continuaram a subir, na última quarta-feira, depois que a Administração de Informações sobre Energia (EIA) ter informado sobre um aumento de 4,4 milhões de barris em stock na semana que terminou a 11 de Setembro. Com 496 milhões de barris, segundo a EIA, os stocks de petróleo bruto continuam acima da média de cinco anos para esta época do ano. O preço do barril de Brent, que chegou a ser negociado a 39 USD na semana passada, fechou a sessão de quarta-feira em 42 USD. A OPEP reportou, no seu relatório de Setembro sobre o mercado do petróleo, outro factor que vai influenciar o aumento dos preços, apontando que registou-se uma quebra da procura global de petróleo que foi revista no seu relatório mensal, que monitoriza o mercado para um valor ainda mais inferior que o previsto nos meses anteriores. De acordo com o cartel, registou-se em Agosto uma quebra superior a 4 milhões barris por dia, saindo 9,5 milhões de barris por dia para uma média de 90,2 milhões de barris por dia.

Entretanto, o gap entre a procura e a oferta de crude, segundo a OPEP, está situado em 1 milhão de barris, uma vez que dados preliminares indicam que a produção global de líquidos em Agosto aumentou 1,32 milhões de barris para uma média de 89,88 milhões de barris dia, registando uma baixa de 10 milhões de barris se comparada com o período homólogo do ano anterior.

Quem também está optimista em relação aos factores do mercado com impacto sobre o preço do petróleo é o Vitol Group, o maior comerciante independente de petróleo do mundo, que espera que os stocks globais de petróleo continuem a cair durante o resto do ano, ao contrário dos seus rivais e muitos analistas que vêem um aumento no mercado.

Os stocks mundiais de petróleo diminuíram em cerca de 300 milhões de barris, desde o pico de 1,2 milhões de barris no início deste verão, e devem diminuir em mais 250 milhões a 300 milhões de barris entre Setembro e Dezembro, disse o executivo-chefe da Vitol, Russell Hardy, à Bloomberg, numa entrevista publicada na quarta-feira.

Entretanto, o preço médio do petróleo nesta semana é o pior em três meses, uma vez que a recuperação da procura por petróleo havia estagnado nas ultimas semanas devido às fracas margens de lucro no negócio da refinação aliada à fraca recuperação da procura por combustível de aeronaves e às incertezas sobre o crescimento económico global, especialmente no principal importador do mundo, a China, segundo revelou a Agência Internacional de Energia. Em resposta à fraca procura, os sauditas, maiores exportadores de petróleo do mundo, cortaram os seus preços oficiais de venda de petróleo bruto para entrega em Outubro, mas, nem assim, os asiáticos estão a comprar.