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Opinião

"Doutores da mula russa"

Opinião

Por estes dias, mais de 100 mil alunos iniciaram ou vão iniciar aulas em estabelecimentos de ensino superior. A todos, sem excepção, os meus parabéns por mais esta etapa cumprida, seguramente à custa de muitos sacrifícios, próprios e das respectivas famílias, e votos sinceros de sucesso.
Por sucesso entenda-se a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências para abraçar uma carreira profissional na área que o aluno vai frequentar, devidamente certificados por um diploma.
Na prática, nem sempre é assim. Uma percentagem - que não ouso quantificar, mas que presumo elevada - dos licenciados em instituições de ensino superior angolanas acaba, de facto, por não adquirir os conhecimentos, as habilidades e as competências inerentes aos diplomas que ostentam.
Em linguagem simples, diria que muitas das nossas instituições de ensino superior não passam diplomas, na verdadeira acepção da palavra. Antes distribuem, a torto e a direito, canudos para os seus titulares exibirem-se na sociedade e junto de empregadores públicos e privados. Neste último caso, com o objectivo de ocuparem cargos e, sobretudo, desfrutarem dos respectivos benefícios, só acessíveis a quem frequentou, com aproveitamento, um curso superior.
Dir-me-ão que é assim em todo o mundo. É verdade. Mas não é menos certo que é mais assim nuns países do que noutros. E com o mal dos outros podemos nós bem.
Salvo melhor opinião, Angola está entre os países em que é mais assim, em que muitos dos diplomas atribuídos não certificam coisa nenhuma, com as consequências negativas que daí advêm para a sociedade, em geral, e a economia, em particular. Como diria o meu pai, muitos dos nossos licenciados não passam de "doutores da mula russa".
Os primeiros a pagar a factura são os próprios licenciados que são atirados às feras num mercado de trabalho cada vez mais competitivo. Pergunto-me mesmo se não estaremos a formar potenciais revoltados. É que, muitos dos nossos licenciados candidatam-se a empregos para os quais preenchem os requisitos formais, nomeadamente o diploma, mas depois acabam preteridos, incluindo por estrangeiros, porque não têm os conhecimentos, as habilidades e as competências inerentes ao diploma que ostentam.
O aumento exponencial do número de diplomados por universidades angolanas nem sempre se traduz, pelo menos na mesma proporção, na melhoria da qualificação da nossa mão-de-obra.