O "milagre" da inflação em Luanda que baixou mais de 21 pp em 12 meses
Sempre foi a província com a maior inflaçãono País, mas no último ano tudo mudou. Como se tivesse sido tocada por uma varinha mágica, Luanda tornou-se em Outubro deste ano a província com a mais baixa taxa de inflação homóloga do País, apenas 15,3%. Há um ano, tinha um valor de 36,65%.
A taxa de inflação homóloga em Luanda caiu de forma surpreendente em apenas 12 meses: passou de 36,56% em Outubro de 2024 para 15,13% em Outubro de 2025, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE). A capital, historicamente conhecida por registar a inflação mais elevada do País, surge agora como a província com a menor variação de preços, invertendo completamente uma tendência que parecia estrutural. À primeira vista, trata-se de um fenómeno positivo. Mas a dimensão e a rapidez da descida levantam dúvidas: como se explica esta desaceleração tão brusca e aparentemente "milagrosa"? A comparação regional reforça o enigma. No Bengo, província vizinha de Luanda, a inflação homóloga desceu de 25,84% para 17,65% no mesmo período - uma variação coerente com a tendência nacional de abrandamento dos preços, mas muito mais moderada. Já em Cabinda, a taxa homóloga é actualmente a mais elevada do País (28,79%), seguida pelo Cuanza Norte (20,98%) e pela Huíla (20,55%). Diferenças tão acentuadas entre regiões que partilham a mesma política monetária e o mesmo ambiente macroeconómico não se explicam facilmente por factores económicos normais. Várias hipóteses podem ajudar a compreender o fenómeno. A primeira prende-se com mudanças metodológicas na recolha e ponderação dos preços em Luanda. O INE tem vindo a actualizar a estrutura do Índice de Preços no Consumidor (IPC), alterando as ponderações atribuídas aos diferentes bens e serviços. Se a nova cesta de consumo urbano incluir produtos com menor volatilidade de preços - por exemplo, serviços de telecomunicações, produtos nacionais ou bens subsidiados - o impacto da variação dos preços dos alimentos e transportes pode ter sido diluído. Num contexto em que o consumo das famílias se contraiu e os hábitos mudaram, a alteração da estrutura do IPC pode ter contribuído de forma significativa para reduzir a taxa medida, mesmo sem uma redução proporcional do custo de vida. Em segundo lugar, há factores macroeconómicos e cambiais a considerar. A estabilização relativa da taxa de câmbio reduziu o encarecimento dos produtos importados, que têm grande peso no cabaz urbano de Luanda. Este "efeito câmbio" é particularmente visível na capital, onde a dependência de bens importados é maior, e o comércio formal - que responde mais rapidamente às variações cambiais - representa uma fatia importante das transacções. Além disso, a redução do poder de compra das famílias urbanas e o abrandamento da procura interna funcionaram como travões naturais à subida dos preços. Com salários reais comprimidos e um consumo mais selectivo, muitos comerciantes e prestadores de serviços não conseguiram repercutir integralmente os custos nos preços finais. Este fenómeno, de "desinflação por recessão", não é novo, já se verificou em outros países africanos em períodos de forte aperto económico.
Controlo mais apertado na capital
Outro factor que não pode ser ignorado é o controlo administivo de preços e subsídios aplicado selectivamente em Luanda. A capital, por concentrar mais de um terço da população do País e ser o principal foco de pressão social, tende a beneficiar de maior vigilância sobre preços de bens essenciais - pão, transportes, electricidade, água e combustíveis.
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