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Opinião

Propaganda

Editorial

A comunicação não pode ser confundida com propaganda. Especialmente na área económica onde a proximidade com a realidade deve ser o mais curta possível, e para falar de crescimento, de inflação, de desemprego, não se podem utilizar as mesmas técnicas de venda de um detergente.

Insistir que o nosso "lava mais branco", comprar espaço nas televisões, fazer manchetes nos jornais, repetir a mensagem até à exaustão, acaba por ter efeitos perversos. Achar que o sucesso da comunicação nesta área se mede pelo impacto que tem no maior número de pessoas, que o importante é levar a mensagem que alguns querem ouvir para aliviar as suas preocupações mesmo que isso não seja completamente verdade, é um profundo erro. No sector produtivo os problemas não se resolvem com fé, resolvem-se com factos. Nem se resolvem regando duas ou três árvores, apresentá-las centenas vezes, e achar que a nossa floresta é a mais bonita do reino.

E também não se resolvem de costas voltadas para os operadores. Assumindo medidas que parecem perfeitas no mundo virtual construído para os seus fiéis, mas que, para a maioria, para a nossa economia, para o bem-estar de todos, não resultam. Como nos disse recentemente um economistas , depois de repetirem tantas vezes essa propaganda, também acreditam nela. E quem parte de dados que não estão certos, toma decisões erradas. Que, infelizmente, afectam todos nós. Neste enredo do "faz de conta" acabam por ser arrastadas algumas instituições que são tuteladas por estes realizadores, sendo que a sua credibilidade acaba por ser empurrada para aquele nível do "já ninguém acredita". E um País tem que ter instituições fortes e indiscutíveis.

Este efeito perverso da "propaganda cor-de-rosa" pega-se aos especialistas, aos jornalistas, mesmo aos que actuam neste filme, aos economistas, aos parceiros internacionais, aos investidores e, mesmo quando as boas notícias tem sustentação, todos desconfiam. Esta linguagem do "melhor detergente" desmobiliza, não une. Afasta, cria um ambiente muito pouco propício à recuperação económica. Só serve para aumentar os egos dos "criadores", que se isolam nas suas tertúlias, não ouvem o mundo à sua volta e convencem-se que não têm de dar satisfações a ninguém. São eles contra o resto do mundo, porque têm o dom da sapiência.

E, se formos pragmáticos, o PIB cai há cinco anos, a produção industrial também, o consumo "idem idem aspas aspas", a dívida pública aumenta, as condições de vida das populações baixa de forma preocupante, os quadros com valor e capacidade estão a sair para o estrangeiro e, na verdade, a economia não anda e as medidas económicas anunciadas com tanta pompa e circunstância, não estão a resultar. E não há outra forma de olhar para este fenómeno.