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Iniciativas

Elevar os cuidados médicos às alturas e transformá-los num negócio rentável

Nigéria

Durante a última década, uma jovem revolucionou os cuidados de saúde de emergência na África Ocidental. Assim que concluiu o curso de medicina, Ola Orekunrin-Brown lançou-se na criação de um serviço de ambulância aérea. Para que não acontecesse a outras famílias o que lhe aconteceu. Perder uma irmã, de 12 anos, por não conseguir chegar a tempo a um hospital.

Poucos previam que o primeiro serviço aéreo de ambulâncias da África Ocidental seria lançado por uma jovem, de 23 anos. Corria o ano de 2007 e a mulher era Ola Orekunrin (agora Ola Orekunrin-Brown). Após uma tragédia pessoal, a jovem médica canalizou o luto e a coragem para uma iniciativa que já salvou centenas de vidas.
Nascida no Reino Unido, Ola cresceu numa pequena cidade no sudeste de Inglaterra e estudou medicina na Universidade de York. Enquanto completava os estudos, a sua irmã, de 12 anos, ficou doente durante uma viagem de férias com parentes, na Nigéria. A criança precisava ser transportada de avião para um hospital, onde poderia receber o tratamento adequado, mas foi com enorme desalento que a família descobriu que a ambulância aérea mais próxima estava na África do Sul. A sua irmã acabou por morrer antes que o socorro pudesse chegar.
Foi angustiante para Ola Orekunrin-Brown saber que a sua irmã não tinha morrido por causa da doença, mas por não conseguir ter acesso ao tratamento a tempo. A tragédia permaneceu com ela enquanto completou os seus estudos em medicina. Formou-se aos 21 anos, como uma das médicas mais jovens do país. E assim que começou a trabalhar, passou a economizar todos os centavos que podia com foco na ideia de lançar uma ambulância aérea beneficente.
Ola viajou para a Nigéria para enfrentar o desafio, depois de estudar modelos de ambulância aérea noutros países em desenvolvimento. Não foi preciso muito para chegar à conclusão que uma empresa seria a melhor maneira de realizar os seus objectivos e, por isso, começou a arrecadar fundos para lançar o investimento - um desafio considerável para uma jovem mulher, acabada de formar.
A médica também teve de lidar com processos burocráticos tediosos e uma série de outras questões que a impediam de andar tão rápido quanto desejava. Sem experiência profissional, teve de aprender enquanto fazia, abrindo mão de muitas das actividades de que desfrutam os jovens na casa dos 20 anos para dedicar todo o tempo disponível ao seu projecto.
A motivação e perseverança valeram a pena. Em pouco tempo, tornou-se directora-executiva da Flying Doctors Nigeria Limited. A sua nova empresa oferecia serviços aéreos de evacuação, tanto para o sector privado e público, como para indivíduos ricos, transportando trabalhadores feridos para fora das plataformas de petróleo offshore, por exemplo, ou repatriando expatriados britânicos doentes.
Mas, com as evacuações internacionais a custarem cerca 60 mil USD e as locais 20 mil USD, Ola sabia que precisava de oferecer opções mais acessíveis.
Por fim, teve a ideia de usar lugares não vendidos em companhias aéreas, construindo unidades especiais que poderiam ser instaladas facilmente numa fila de assentos. O conceito engenhoso garantiu a redução do custo para cerca de 1 mil USD, e tem sido um ganho, tanto para as companhias aéreas como para os pacientes.
Com sede em Lagos, a Flying Doctors tem agora postos avançados em todo o país, com 20 aeronaves fretadas e 44 médicos que prestam cuidados de qualidade durante o percurso, cumprindo a promessa da empresa de levar "o paciente certo à unidade correcta dentro do prazo ideal".
A Dr. Orekunrin-Brown fez questão de garantir que os serviços da sua empresa estão disponíveis para pessoas em áreas remotas da Nigéria, salvando tanto pacientes em estado crítico como vítimas de acidentes de carro, ferimentos de bala ou outras lesões.
Até hoje, a Flying Doctors Nigeria continua a ser o único serviço aéreo de ambulância nativo da África Ocidental e já transportou algumas centenas de pacientes. Com o serviço que salva vidas Orekunrin-Brown e sua equipa conquistaram numerosos elogios e prémios. Mais recentemente, ela ganhou o prémio Extraordinary Business Achievement de 2018, concedido pela The Silverbird Group, uma empresa multimédia nigeriana. É a pessoa mais jovem a ganhar a prestigiosa condecoração e a única mulher a tê-lo feito na última década.
Ola também foi nomeada uma das "100 Leoas de África" - mulheres africanas extraordinárias, cujo exemplo serve para motivar e inspirar outras empreendedoras. No seu discurso na conferência anual de 2016, a médica brindou às "mulheres que mudarão a narrativa" das mulheres africanas. "Que possamos conhecê-las, sê-las, criá-las", disse, num desafio evidente a outras empreendedoras.

*do jornal The Nation
https://www.flyingdoctorsniger.com