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Economia

Angola só captou 500 mil USD em investimento estrangeiro no I trimestre

AFUNDANÇO NO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO NO SECTOR NÃO PETROLÍFERO

A incerteza que se vive no mundo provocada pela inflação e juros altos condicionam o crescimento económico e retraíram o investimento estrangeiro fora do sector petrolífero em Angola para níveis nunca vistos desde que o BNA faz estes registos. É uma consequência indirecta do conflito na Europa. Eleições também não ajudam.

O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) fora do sector não petrolífero desceu a pique no I trimestre para 500 mil USD, o valor mais baixo desde que há registos publicados pelo Banco Nacional de Angola (BNA). A guerra da Rússia contra a Ucrânia fez disparar a inflação a nível mundial e as taxas de juro dos bancos centrais a nível internacional, comprometendo o crescimento económico da maior parte dos países, o que acabou por refrear os investimentos em todo o mundo, segundo especialistas.

Para o economista Wilson Chimoco, esta queda no IDE em Angola não se deve propriamente ao ambiente de negócios do País, que tem vindo a melhorar progressivamente, apesar de ainda não estar ao nível que o País precisa, mas deve-se essencialmente ao contexto internacional, com "o aumento do custo do dinheiro, por conta do aumento dos custos de endividamento/investimento nos mercados financeiros".

O economista considera também que a posição de Angola em relação ao conflito pesa na decisão de investir em Angola, já que por conta das sanções à Rússia, as empresas e empreendedores ocidentais têm sofrido perdas financeiras avultadas, o que acaba por suspender investimentos. "Boa parte do investimento externo fora do sector não petrolífero ainda vem dos países ocidentais. E as empresas nestes países sabem das ligações e do posicionamento do País no conflito, o que limita a sua disposição em colocar o seu dinheiro em Angola", admite.

Para o investigador económico Fernandes Wanda, esta queda no IDE já era esperada, uma vez que desde o início do ano que os principais bancos centrais internacionais apontavam para um aumento nas suas taxas de juros. No caso do Fed, o banco central dos EUA, esse aumento só se verificou em Março, passando de 0,25% para 0,50% e novamente em Maio (1,00%) e Julho (1,75%) numa subida que deverá continuar nos próximos meses à medida que o país liderado por Biden procura a todo o custo travar a inflação. "Um aumento das taxas de juro numa economia como a americana leva mais IDE para os EUA e consequentemente reduz o fluxo de IDE para os países em desenvolvimento. É mais favorável e seguro, com o aumento das taxas de juros da Reserva Federal e do BCE, investir nesses mercados do que arriscar em Angola onde falta de tudo para se produzir de forma competitiva", admite Fernandes Wanda.

Também o economista e professor universitário Miguel Cardoso admite a influência do conflito na queda do investimento directo estrangeiro em Angola. "As incertezas atingem os mercados a nível global, portanto, Angola não pode estar isenta das decisões que os investidores estrangeiros venham a tomar". É neste cenário de incertezas que o investimento estrangeiro fora do sector não petrolífero atingiu o valor mais baixo em Angola desde que o banco central publica os dados sobre estatísticas externas sobre o Investimento Directo Estrangeiro por sectores. Mas o aproximar das eleições em Angola também é apontado como uma das justificações para a queda do investimento estrangeiro no País.

(Leia o artigo integral na edição 681 do Expansão, de sexta-feira, dia 01 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)