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Gestão

A inflação prolongada impacta nos resultados das seguradoras

EM ANÁLISE

São as seguradoras não vida as mais impactadas, em particular na regularização de sinistros, pois terão custos mais altos devido à inflação. Será importante que os diferentes stakeholders do sector segurador (reguladores, seguradoras, intermediários, mas também clientes) mantenham, apesar da inflação, os capitais ajustados aos riscos que pretendem ver cobertos.

As economias do hemisfério norte, em particular as europeias, estão, nos últimos meses, muito impactadas pela inflação, algo que nos últimos 20 anos não foi uma preocupação. A estabilidade cambial proporcionada pelo euro reflectiu-se em taxas de inflação próximas de zero e em taxas de juro que chegaram mesmo a ser negativas.

A pandemia, ao gerar disfuncionalidades nas redes de distribuição / cadeias logísticas e, mais recentemente, a invasão da Ucrânia pela Federação Russa, vieram trazer à evidência níveis de inflação jamais vistos neste século. Os custos da energia (petróleo e gás) e a escassez de algumas matérias-primas (milho, trigo e oleaginosas, principalmente) são somente a ponta do iceberg da inflação, que a globalização se encarregou de tornar "global", passe o pleonasmo.

E como se comportam os seguros com todo este novo enquadramento? Estava recentemente a ler um artigo em que analistas da Moody"s referiam que uma "inflação prolongada pode pesar nos lucros das seguradoras (...) podendo trazer efeitos adversos de segunda ordem". É bem verdade. São as seguradoras não vida as mais impactadas, em particular na regularização de sinistros, pois terão custos mais altos, devido à inflação. Por outro lado, será importante que os diferentes stakeholders do sector segurador (reguladores, seguradoras, intermediários, mas também clientes) mantenham, apesar da inflação, os capitais ajustados aos riscos que pretendem ver cobertos, sob pena de, em caso de sinistro, os capitais seguros não reflectirem a realidade que se pretende segurar (quer em riscos pessoais ou patrimoniais), com todos os inconvenientes que daí advêm.

Para compensar estas duas situações (custo mais elevado dos sinistros e subida dos capitais seguros), os seguradores têm duas alternativas, que podem ser implementadas de uma forma alternada ou articulada. Ou reduzem custos e/ou aumentam os prémios de seguro. Estes últimos impactam positivamente o resultado técnico (objectivo primeiro que uma seguradora deve procurar), mas obviamente não agradam aos clientes. A subida das taxas de juro também impacta positivamente o resultado financeiro, o que nem sempre aconteceu nos últimos anos.

Ao nível das seguradoras vida, e num contexto de capital económico (necessidade de capital para fazer face a perdas / custos futuros significativos e inesperados), a inflação traz taxas de juro crescentes, que são positivas para as seguradoras, em particular seguradoras vida, pois os requisitos de solvência são sensíveis a mudanças de taxa.

Mas estes são primeiros impactos, pois há impactos de segunda ordem, que importa listar:

¦ Subida do Rácio Combinado em Não Vida (Despesas com sinistros e custos gerais versus Receitas - Prémios) - indice de desempenho mais importante em seguradoras não vida;

¦ Subida do Rácio Cost-to- -income em Vida (Custos Operacionis versus Proveitos Operacionais) - indice de desempenho mais importante em seguradoras vida;

¦ A inflação mais prolongada pode originar a redução do crescimento económico (e até recessão), reduzindo a procura de seguros e aumentando o risco de um significativo aumento das taxas de juro;

¦ Combinando o crescimento lento com inflação elevada e taxas de juro em rápido aumento, podem criar-se situações de elevada volatilidade nos mercados financeiros, prejudicando assim o retorno dos investimentos e os índices de solvência das seguradoras.

(Leia o artigo integral na edição 680 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Junho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)