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Grande Entrevista

"É necessário começar a promover outros sectores onde Angola tem potencial"

ALBERTO VUNGE, ECONOMISTA

O economista Alberto Vunge analisa o desempenho da economia nacional e insiste que recente alta de preços do petróleo constitui a última oportunidade que o País tem para acelerar a diversificação da economia.

Após cinco anos de recessão tudo indica que o País saiu no ano passado deste ciclo de crescimento negativo. Acredita que é possível iniciar um novo ciclo de crescimento económico?

Tudo começou no segundo semestre de 2014, na fase em que se deu a crise do sector petrolífero. Dois anos depois a economia começou a ressentir-se e, de 2016 até 2021, tivemos uma situação em que a economia andou para trás. A dita situação de recessão económica.

São conhecidas as razões das recessões. A queda do preço e da produção de petróleo são os principais culpados.

Do ponto de vista técnico, os factores que sustentaram esta regressão ou, se preferir, o mau desempenho sucessivo da economia nacional, coincidem com o fraco desempenho do sector petrolífero. Numa primeira aproximação, o fraco desempenho do sector petrolífero acabou por motivar o fraco desempenho da economia nacional.

Continuamos demasiado expostos ao petróleo...

Por cada 100 USD que entram na economia angolana mais de 90 USD vêm do sector petrolífero. O desempenho fraco do sector petrolífero significa uma certa quebra nas receitas em moeda estrangeira, o que acaba por influenciar a capacidade da economia para importar bens de consumo e também bens de capitais, que são fundamentais para alimentar o crescimento e o desenvolvimento sustentado da economia nacional.

O acordo com o FMI e o desempenho do sector petrolífero salvaram a economia angolana?

Sim. Acho que o Governo gizou um conjunto de planos de sobrevivência e esses planos, do ponto de vista teórico, podemos dizer que nos trouxeram até aqui. Agora é o momento de começar a pensar nalgum plano de sobrevivência de curto prazo, mas inibir a insustentabilidade relacionada com o processo de reconversão e reestruturação da forma como a nossa economia gera riqueza.

Fala da diversificação da economia?

É necessário começar a promover outros sectores onde Angola tem potencial para começar a produzir produtos que sejam transaccionados. Que tenham qualidade e competitividade do ponto de vista de preços para serem comercializados nos mercados internacionais e por esta via largar a nossa base de obtenção de divisas e criar riqueza. Desta forma vai-se consolidar a sustentabilidade e estabilidade do sector cambial.

Com os preços do petróleo em alta e mesmo com a inversão e queda para baixo dos 100 USD nos últimos dias, alguns especialistas preveêm que vai se manter entre os 60 e os 90 USD. Não estaremos a entrar para outro ciclo dourado de elevadas receitas petrolíferas?

Está claro que podemos entrar numa fase de receitas elevadas para o País. Isto é claro, há esta relação directa quase que proporcional entre aquilo que é o desempenho da economia nacional e o desempenho do sector petrolífero a nível mundial.

Em 2030, em alguns países da Europa e nos EUA entra em vigor a proibição de venda de automóveis novos movidos a gasolina e gasóleo, o que vai reduzir a procura por petróleo iniciando um ciclo de preços baixos. O que isto significa para Angola?

A expectativa é que no pior cenário, nos próximos oito anos, o sector petrolífero vai experimentar preços do barril do petróleo em níveis acima dos 70 e 80 USD. Isto também vai significar que do ponto de vista financeiro Angola terá os cofres cheios. E deve decidir sabiamente onde aplicar este dinheiro para o bem da economia e do País.

Isto vai significar uma última oportunidade para injectar dinheiro do petróleo na diversificação da economia?

A questão que se coloca é se vamos fazer diferente daquilo que fizemos na fase mais recente, que nós chamamos de década perdida. Recorde-se que tivemos uma situação mais ou menos igual a esta mas não fomos capazes, nem racionais do ponto de vista da utilização deste excessivo caudal de "petrodólares" para diversificar a economia.

(Leia o artigo integral na edição 666 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)