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Grande Entrevista

"Este quinquénio tem de ser o da industrialização do País"

DANIEL SAPATEIRO, Economista e consultor de estratégia de gestão

Daniel Sapateiro defende a reforma da educação e a definição de uma estratégia na administração pública para o aumento da produtividade, além de orientações claras sobre o que se pretende para o crescimento da economia e desenvolvimento sustentável do País.

O País começou uma nova legislatura. Quais são os desafios macroeconómicos para os próximos anos?

Preparar a economia para o primeiro choque que vamos conhecer. É algo conhecido, não é desconhecido como foi a pandemia da Covid-19. É a quebra da produção petrolífera em 2025/2026 que pode chegar a 40% da actual produção de 1,1 milhões de barris por dia. Se não refizermos rapidamente a nossa economia, podemos chegar a 2025 com menos receitas e despesas no Orçamento Geral do Estado (OGE), e com uma transformação da economia. O que quer dizer que ainda temos de fazer uma racionalidade maior no plano de austeridade. Temos de fazer escolhas. Temos de fazer um plano de decisões com base numa situação difícil.

Este é o grande desafio?

Existem mais dois, que são transversais. O primeiro é que o Presidente da República, enquanto chefe do governo, tem de dizer, comunicar em poucas palavras, quais são as orientações que o País vai ter. Onde continuar a investir, se nas energias renováveis, no petróleo e gás liquefeito, na agricultura, na indústria, nas infraestruturas. É preciso dizer ao País o que é que vamos trabalhar, a linha orientadora, para que os cidadãos saibam para onde vamos. E isso tem de ser dito para que saibamos até os sacrifícios que temos de fazer. O outro desafio é a reforma da educação.

Porquê?

Porque não temos mais tempo para adiar a reforma da educação em linha com a formação profissional e o ensino superior. Muitos dos problemas que temos são originários da educação, inclusive noutras vertentes, como educação financeira, fiscal, cidadania... Temos de montar um ensino que prepare as crianças, desde o pré-primário até à idade adulta. Temos de ter uma formação profissional de verdade, coordenada. Porque os dois grandes problemas que os empresários têm são a liquidez, falta de dinheiro, e recursos humanos com competências, com comprometimento. É preciso percebermos se os cursos profissionais existentes estão de acordo com as necessidades do mercado. Sem esquecer a reforma do ensino superior, porque este incentiva a que todos tenham de ir para as universidades

Isso não estará associado à forma de remuneração, sobretudo no sector público, em que os salários têm como base a formação académica?

É verdade. Mas também tem a ver com a mentalidade de que se eu estudar mais, também vou ganhar mais. A questão é que há profissões que não precisam de licenciatura e são bem pagas quando as pessoas são competentes, profissionais e comprometidas. Há muitas licenciaturas de ciências sociais e humanas que são promotoras de desemprego ou sub-emprego. É preciso fazer uma reconversão deste sistema e identificar as reais necessidades para que haja um casamento entre a formação e as necessidades do mercado. Inclusive para não defraudar as famílias e os próprios estudantes.

A capacitação resolve as questões do País ou estes aspectos?

Capacitar e depois premiar pelo mérito e pela produtividade, sim. Porque um dos problemas que temos nas empresas, depois da liquidez, é encontrar pessoas para trabalhar. Mas também temos a questão da produtividade. Temos uma produtividade muito baixa, não só por falta de ferramentas de trabalho, que é verdade, mas também, por exemplo, a nova Lei Geral do Trabalho, que reduz o tempo de trabalho para 35 horas semanais, não ajuda.

Em que sentido?

Com esta lei, as autoridades dizem que vai aumentar a produtividade, mas não acredito que aumente. O aumento da produtividade, seja na administração pública ou no sector privado é com lideranças exemplares. Com ferramentas de trabalho, ambiente de trabalho, estabelecimento de metas e objectivos aos trabalhadores. Premiar quando o mérito é atingido, e justiça no tratamento das pessoas.

(Leia o artigo integral na edição 693 do Expansão, de sexta-feira, dia 23 de Setembrode 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)