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Grande Entrevista

"Na indústria, não é fácil para Angola definir uma estratégia consistente"

NICOLAS LIPPOLIS INVESTIGADOR

O investigador da Universidade de Oxford aborda as políticas públicas de desenvolvimento e compara os percursos de Angola e Etiópia. Apesar de apontar caminhos e identificar fraquezas na diversificação da economia, o especialista sublinha que não há soluções fáceis e que este é um tema em aberto na academia.

Na sua opinião, quais são os pontos- chave e as características essenciais dos modelos bem-sucedidos de política industrial?

Há uma biblioteca cheia de livros sobre esse tema mas, em resumo, eu diria que há três ou quatro factores principais. O legado histórico é importante porque ninguém se industrializa do nada e a existência de uma experiência industrial pré-existente faz muita diferença, porque quer dizer que existem empreendedores capacitados ou uma força de trabalho acostumada à disciplina industrial, o que não é simples. A história da industrialização fala de camponeses que vão para cidade e que têm de se adaptar à disciplina, ao horário industrial, que não é algo natural para o ser humano. Esse é um factor.

Obviamente que há mais.

Há também a questão da produção agrícola: os países com um sector agrícola muito forte se beneficiam porque utilizam essas divisas para financiar a industrialização, entre outros aspectos. Outro aspecto importante é a relação entre o Estado e o sector privado. No caso dos Tigres Asiáticos, especialmente Coreia do Sul e Japão, essa relação foi pautada pelos grandes conglomerados. Na experiência deles, o Estado ajuda mas também disciplina, ao mesmo tempo que o sector privado foi essencial para gerar recursos. Também na América Latina, em todos os exemplos de industrialização, os detalhes da relação entre o Estado e o sector privado são fundamentais. Depois é importante analisar as pessoas que têm as rédeas das políticas públicas e as suas ideologias e estratégias de desenvolvimento. Um quarto factor importante são as condições internacionais e a forma como o país está inserido na economia mundial.

Olhando para os factores que destacou podemos dizer que Angola não está muito bem colocada. Como avalia a economia angolana e o processo de industrialização no País?

Angola tem condições iniciais muito desfavoráveis, porque nós sabemos que durante a época colonial muito do conhecimento e do capital produzido durante o primeiro esboço de industrialização, no início da luta armada, em 1961, estava nas mãos dos colonos. A descolonização abrupta teve um efeito devastador nesse capital humano, que era necessário para administrar uma economia moderna. Isso é conjuntura histórica que, provavelmente, foi incontrolável mesmo para a maioria das pessoas com mais poder. Depois da descolonização veio a guerra e um sistema comunista que não deu certo em termos de desenvolvimento industrial. Este contexto foi fatal. Além disso, durante a guerra, a agricultura foi muito reduzida, sofreu danos imensos, então as condições iniciais são bem desfavoráveis. Angola não tem um sector privado muito desenvolvido e, por isso mesmo, a industrialização sempre esteve nas mãos do Estado.

(Leia o artigo integral na edição 669 do Expansão, de sexta-feira, dia 8 de Abril de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)