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Grande Entrevista

"O mercado não pode estar dependente exclusivamente da dívida pública"

ANTÓNIO CATANA, CEO DA STANDARD GESTÃO DE ACTIVOS

O CEO da mais nova sociedade gestora de OICs aponta que neste momento há muita poupança em Angola que não está a ser bem remunerada. E considera que o facto de o Estado estar a emitir títulos com taxas mais baixas é uma oportunidade para as empresas emitirem obrigações corporativas.

O Standard Gestão de Activos é a sociedade gestora de Organismos de Investimento Colectivo (OIC) mais nova, já que tem apenas um ano no mercado. O que surgiu de novo com a vossa entrada no mercado de capitais?

O grupo Standard Bank tem claramente como estratégia, em África, nesta área de gestão de activos, ser um player fundamental e importante. E, obviamente, viu Angola como uma grande oportunidade. Foi possível avançar com este projecto porque se reuniram três condições que, para nós, são fundamentais. Basicamente, é termos um accionista empenhado, com capital e com experiência. Porque o grupo tem uma grande experiência em África, e é líder em mercados como a Nigéria e o Ghana. E, portanto, há aqui uma experiência que pode ser trazida para Angola.

Quais são os outros dois pontos?

O segundo ponto, que para nós era fundamental, era ter capacidade para reunir a melhor equipa. Os melhores especialistas, porque o segredo e o sucesso deste negócio é, claramente, construir a melhor equipa. E isso foi possível. E o terceiro componente, e para mim fundamental também, nesta era onde estamos, é a parte dos sistemas. Tínhamos que ter capacidade para juntar a marca, a equipa, aos melhores sistemas que possam propiciar aos nossos clientes e investidores a melhor experiência possível.

Falou que o segredo está numa boa equipa. Encontrou dificuldades para seleccionar quadros angolanos para aquilo que o grupo deseja?

Não, de todo. O processo foi longo em termos da selecção, mas conseguimos encontrar especialistas que me dão garantias de termos uma equipa de gestão ao melhor nível, mesmo comparando com mercados internacionais. Foi perfeitamente possível encontrar talento em Angola, nas várias vertentes desde a área do mercado, nomeadamente desenvolvimento do negócio, compliance, gestão financeira, operações e com experiência.

O que é que têm em termos de fundos sob gestão?

Em termos do que são os nossos fundos, começamos pelo fundo rendimento. Um fundo fechado que iniciámos em Março de 2024, que foi o nosso primeiro fundo. Era um fundo que tinha uma oferta muito concreta de tirar partido das oportunidades do mercado de obrigações há três anos, em Angola. E uma coisa boa que tivemos foi uma grande confiança por parte dos investidores.

Um fendo fechado é mais limitado...

É verdade que também percebemos que o fundo fechado era algo limitado. Não nos permitia dar uma liberdade de actuação para os clientes fazerem uma gestão mais adequada das suas necessidades, quer ao nível da subscrição, reforço e inclusive ao nível do resgate. O fundo fechado não permite resgates. Ora, então o que nós fizemos agora em Junho foi lançar os nossos fundos abertos. Um fundo de obrigações, que pretende tirar partido das oportunidades que surjam para a poupança a mais de médio prazo. E um fundo de tesouraria que tem como objectivo dar rentabilidade à liquidez.

E como funciona este fundo de tesouraria, uma vez que é a primeira vez que o temos no mercado angolano?

O fundo de tesouraria é totalmente inovador no nosso mercado. É um capítulo novo em termos do que é uma solução que permite a liquidez quase imediata. Este fundo tem proporcionado aos seus investidores a possibilidade de resgatarem e terem acesso ao seu dinheiro em dois dias, o que é excelente. E, por outro lado, porque nós fazemos uma gestão muito dinâmica e muito activa da carteira do fundo, conseguimos oferecer uma rentabilidade claramente superior, inclusive aos depósitos de curto prazo.

E quais as taxas médias de rentabilidade dos vossos fundos?

Eu teria todo o interesse em divulgá-las. Mas nós temos, que seguir as regras do regulador. E o que acontece é que apenas após seis meses de o fundo chegar ao mercado, como o que está em actividade, é que podemos divulgar as taxas. De qualquer forma, o que eu posso dizer, relativamente a estes três fundos, é que as rentabilidades estão claramente acima das expectativas dos nossos investidores. E isto é uma garantia que eu dou, logo que seja possível publicar rentabilidades, passaremos a publicá-las regularmente, para o mercado ter a maior visibilidade e transparência.

Falou aqui da confiança, mas olhando para os dados da CMC, a Standard Gestão de Activos tem apenas 1,74% da quota de mercado. Este número não vos preocupa?

Esta questão da quota, a nós não nos interessa tanto, porque o nosso caminho é muito simples. Temos sob gestão 14,45 mil milhões Kz, que é um valor que nos orgulha, neste momento. E temos claramente como objectivo multiplicá-lo por dois até ao final do ano. E iremos conquistar o nosso espaço. A nossa quota, em termos de mercado global de OICs, que inclui também os fundos imobiliários, é uma quota na ordem inferior a 2% como referiu. Mas se olharmos, por exemplo, para a nossa quota no mercado dos fundos apenas mobiliários, que é onde nós estamos inseridos, a nossa quota já anda em torno dos 10%.

Mas a quota de mercado não importa?

Nós estamos aqui para fazer crescer os nossos fundos para os clientes. E, portanto, o que nós queremos é, em termos absolutos, contribuir não para tirar quota de mercado aos outros, mas para ajudar o mercado a crescer. Porque nós achamos que o valor que actualmente existe sob gestão de fundos mobiliários em Angola, cerca de 130 mil milhões de kwanzas, é muito abaixo para aquilo que o mercado tem potencial de fazer. Achamos perfeitamente possível fazer isso a três, quatro anos. E, nessa altura, aí sim, já queremos ser líderes de mercado incontestado nos fundos imobiliários.

O que é que já movimentaram com estes fundos?

Desde que iniciámos a nossa actividade, já negociámos, em termos dos mercados BODIVA, mais de 55 mil milhões de kwanzas. Mais do que três vezes o valor do fundo que foi investido no mercado.

Afinal, como é que se ganha dinheiro via fundos de investimento, ou seja, o que vai levar um investidor a rentabilizar dinheiro via fundos de investimento?

É por uma gestão activa e muito atenta das oportunidades que existem.

E as oportunidades surgem como?

O dinheiro vai-nos entrando através das subscrições, vamos gerindo os resgates, mas depois todos os dias, de acordo com o objectivo de cada fundo, fazemos o scan do que existe disponível em mercado. E é com base nisso que a nossa equipa está sempre constantemente em mercado.

Leia o artigo integral na edição 791 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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