Onze países lançam rede para assegurar energia na África Central
Esta rede regional de energia prevê a construção de três sistemas multinacionais de oleodutos e gasodutos, com aproximadamente 6.500 quilómetros, e terminais de armazenamento de gás liquefeito (LNG) e de gasolina, três refinarias e três centrais eléctricas alimentadas a gás. Projecto foi lançado nos Camarões.
Onze países de África Central, entre os quais Angola, assinaram um acordo para a construção de uma rede regional de oleodutos, gasodutos e infraestruturas de gás que vai permitir aumentar o fornecimento de energia na região e diminuir as importações de refinados, que se tornaram um encargo ainda mais pesado com a escalada de preços provocada pela guerra na Ucrânia.
O acordo foi assinado há uma semana, no arranque da 2ª edição do Fórum de Negócios e Energia da África Central, que decorreu em Douala, nos Camarões, e é o ponto de partida para um ambicioso projecto transfronteiriço de energia. O projecto do Sistema de Pipelines da África Central, conhecido como CAPS, prevê a construção de três sistemas multinacionais de oleodutos e gasodutos, com aproximadamente 6.500 quilómetros de extensão, e terminais de armazenamento, incluindo de gás liquefeito (LNG) e de gasolina. Estão também incluídas no memorando de entendimento que foi assinado nos Camarões três refinarias e três centrais eléctricas alimentadas a gás, que ligarão os 11 países subscritores até 2030.
Todos os países abrangidos pelo acordo são produtores de petróleo ou têm reservas de petróleo e gás, mas dependem da importação de produtos refinados, como sinaliza a Reuters, o que atesta o alcance do projecto. A maioria dos países da rede, que engloba Angola, Camarões, Chade, Gabão e os dois Congos, tem pouca ou nenhuma capacidade de refinação e luta contra a escassez de combustíveis e de energia.
O projecto é inspirado no gasoduto da África Ocidental, que liga a Nigéria, Benin, Togo e Gana, e no modelo europeu, que tem em Roterdão, nos Países Baixos, o seu centro de refinação e distribuição para vários países, como explicou Gabriel Mbaga Obiang Lima, ministro das Minas e Hidrocarbonetos da Guiné Equatorial, e um dos impulsionadores do projecto. Apesar da emergência na construção de redes de distribuição de energia na África Central, que se tornou mais evidente com a guerra na Ucrânia, o projecto ainda está na fase embrionária.
A assinatura do memorando de entendimento abre caminho a estudos de viabilidade de um projecto que representa uma "mudança de jogo para a subregião da África Central", destacou o secretário-geral da APPO, Omar Farouk Ibrahim, durante o fórum em Douala.
Desafios da transição energética
O documento que lança a rede de pipelines na África Central foi assinado pela Organização dos Produtores de Petróleo (APPO), organismo intergovernamental que congrega 16 países africanos produtores de petróleo e gás e um dos financiadores do projecto, e o Fórum de Energia Empresarial da África Central (CABEF). "Um grande estudo conduzido pelo Secretariado da APPO no ano passado sobre o Futuro da Indústria do Petróleo e do Gás em África à Luz da Transição Energética descobriu que África corre o risco de perder os mais de 125 mil milhões de barris de petróleo bruto e outros 550 mil milhões de pés cúbicos de reservas comprovadas de gás se não enfrentar imediatamente os três desafios iminentes para a indústria resultantes da transição energética global", destacou Farouk Ibrahim.
Estes desafios são o "do financiamento, o desafio tecnológico e o desafio das infraestruturas de mercado/energia", acrescentou o secretário geral da APPO, notando que o projecto "tem o potencial de mudar dramaticamente as economias de todos os países participantes", já que "leva a energia de áreas de abundância para áreas de necessidade dentro da subregião" e "deverá integrar e energizar as economias nacionais" da África Central.
Entre os financiadores desta rede de gasodutos e oleodutos encontra-se o Afreximbank, com quem a Organização dos Produtores de Petróleo assinou um memorando de entendimento, em Março, para a criação de um Banco Africano de Energia. Este banco será dotado, na fase de arranque, com 6 mil milhões USD para a carteira energética. As acções do banco estarão disponíveis a investidores que partilhem a sua visão, como destacou Omar Farouk Ibrahim.