Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Mundo

Estados Unidos e Japão querem a saída de Kristalina Georgieva do FMI, europeus seguram-na

A atenção das reuniões anuais do FMI é disputada com a polémica que envolve a actual directora-geral

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional tornou-se uma figura pouco consensual nas últimas semanas, após notícias de que teria cedido a pressões para favorecer a China nos relatórios Doing Business do Banco Mundial quando desempenhava um cargo executivo também nesta instituição de Bretton Woods, no caso, o de directora-geral entre 2017 e 2019.

E os 24 membros do conselho executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) estão divididos acerca da permanência ou não da búlgara à frente da instituição. Os Estados Unidos e o Japão querem que Kristalina Georgieva deixe o seu cargo, os países europeus - e diversos países africanos - consideram que Georgieva deve permanecer no cargo. O tema da directora-geral está a desviar as atenções das reuniões anuais do FMI que vão decorrer esta semana, em Washington.

A posição de Georgieva como diretora-geral do FMI está sob pressão desde que foi acusada, no passado mês de Setembro, de manipular dados para favorecer a China, quando era directora-geral do Banco Mundial.

Os Estados Unidos e o Japão, que são os dois maiores contribuintes do FMI, de um lado, a França, Alemanha, Itália e Reino Unido de outro, e alinhados com estes países estão a China e a Rússia, explica o Financial Times. Nas reuniões da semana passada do conselho executivo do FMI o tema foi debatido mas não se chegou a consenso.

Em comunicado, divulgado no final da semana, o FMI disse que o conselho havia avançado numa "revisão completa, objectiva e oportuna" da situação, mas ainda não tinha chegado a nenhuma conclusão acerca da investigação que envolve a actual directora-geral. No entanto, prometeu para "muito breve" uma conclusão.

As reuniões anuais do fundo com o Banco Mundial começam nesta segunda-feira. Uma fonte do FMI adiantou que extensão das divergências do conselho sobre o destino de Georgieva está a minar a sua capacidade de liderança, e, neste contexto, a sua substituição surge como a única alternativa.

A falta de consenso relativamente à directora-geral do FMI põe em causa a eficácia da instituição, consideram fontes próximas do FMI.

As acusações que pesam sobre Georgieva põe igualmente em causa a credibilidade tanto do Banco Mundial como do FMI, numa altura particularmente relevante das duas instituições - em tempo de pós-pandemia e de negociações com diversos governos do mundo, particularmente com os dos países em desenvolvimento, de forma a realinharem as suas prioridades com as prioridades do fundo, também no que tem a ver com a questões da emergência climática e de igualdade de género.

Georgieva é acusada de manipular dados a favor da China na edição de 2018 do relatório anual Doing Business do Banco Mundial, quando desempenhava o cargo de directora-geral da instituição, que deixou para substituir a francesa Christine Lagarde no FMI, em Outubro de 2019.

Georgieva tem negado quaisquer irregularidades. Mas as acusações também vão no sentido da criação de um ambiente "tóxico" durante a sua direcção executiva do Banco Mundial.

As acusações surgem num relatório encomendado pelo Banco Mundial ao escritório de advogados norte-americano WilmerHale e tornado público em 16 de Setembro.

Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia e ex-economista-chefe do Banco Mundial, descreveu os esforços para remover Georgieva como um "golpe" e o relatório WilmerHale como estando viciado. Entretanto, seis ex-funcionários do Banco Mundial, através de uma agência de comunicação contratada por Georgieva, fizeram a sua defesa como uma "pessoa de grande integridade e que tem um compromisso com o desenvolvimento".

Os que a defendem falam ainda do seu papel durante a pandemia da covid-19, quando canalizou financiamento de emergência para os 100 países mais pobres do mundo e quando conseguiu a alocação de 650 mil milhões de dólares em direitos especiais de saque.

Entre os que estão a favor da actual directora-geral do fundo, estão diversos países africanos. Entre os que estão contra, está Anne Krueger, ex-economista-chefe do Banco Mundial e ex-vice-diretora-geral do FMI, que partilhou que a situação a deixa preocupada, considera que se este assunto passar sem consequências "teremos mais pressão dos governos para que se mude para números mais favoráveis".

Há ainda os que temem que o destino de Georgieva seja decidido, não pelas suas acções ou da questão de credibilidade das duas principais instituições multilaterais do mundo, mas pela geopolítica. E apontam como argumento o aumento das tensões entre Washington e Pequim, bem como a irritação da França acerca da decisão da Austrália de descartar o acordo de compra de submarinos nucleares franceses, em favor de um acordo com os EUA e o Reino Unido para conter a China, como motivações que podem atingir a directora-geral do FMI.