Empurrar com a barriga
Hoje não é possível andar para trás, e para que se entenda, ou aparece um investidor credível com liquidez suficiente para voltar a pôr a roda a andar, o que muitos consideram uma hipótese muito remota, ou o banco vai ter mesmo de avançar para a liquidação. E para a responsabilização, esperamos todos.
Independentemente da decisão final, a forma como o caso do Banco Económico for tratado pelo BNA daqui para a frente terá um impacto grande na credibilidade do banco central e, por acréscimo, das instituições nacionais. Os olhos das instituições internacionais, financeiras ou não, estão fixados naquilo que será o futuro do banco. O caso é conhecido, apesar de nem todos os dados serem conhecidos publicamente, mas estas mesmas instituições têm uma ideia muito aproximada do que se passou no BESA.
Todos reconhecem que chegámos aqui, porque houve uma enorme passividade do banco central, possivelmente em conluio com o poder político, mas desde que foi publicada a nova lei das Instituições Financeiras que havia suporte para uma intervenção mais efectiva, o que não veio a acontecer durante estes últimos anos. Num processo em que muitos dos privilegiados têm o "pé preso", nunca houve a coragem de responsabilizar os envolvidos. E para que não existam dúvidas sobre a dimensão, estamos a falar de um buraco que no mínimo tem uma profundidade de 7 mil milhões de dólares.
Aliás, muitos dos que estiveram na administração do BESA e do Banco Económico nestes últimos 15 anos, que possibilitaram o saque, muitos dos beneficiários que se tornaram multimilionários e muitos dos que passaram pelo BNA e conheciam a situação fecharam os olhos, estão aí. E, talvez por isso, por serem muitos e "poderosos" é que se andou este tempo a adiar uma resolução, à espera que um raio divino caísse sobre o assunto e apagasse para sempre este pedaço da história do País.
Hoje não é possível andar para trás, e para que se entenda, ou aparece um investidor credível com liquidez suficiente para voltar a pôr a roda a andar, o que muitos consideram uma hipótese muito remota, ou o banco vai ter mesmo de avançar para a liquidação. E para a responsabilização, esperamos todos.
O actual governador não é o responsável, mas claro que sabia do caminho que o banco tomou durante estes anos. Nesses tempos passados não tinha poder de inverter o curso da onda, mas hoje tem. E é sobre ele que as responsabilidades caem. Calculo o que já lhe disseram sobre este processo, as ameaças veladas que lhe foram passando, a pressão a que está sujeito neste momento. Porque tomar uma decisão de liquidação, por exemplo, é abrir a caixa de pandora, porque as histórias e os protagonistas vão acabar por ficar sobre escrutínio nacional e internacional.
Confesso que não consigo suportar solidamente qual será a solução ideal para o Banco Económico, mas sei que não pode continuar tudo na mesma, fingir que não se passa nada, ou pior, fingir que estamos a resolver sem tomar qualquer medida concreta. Empurrar com a barriga, como diziam os mais velhos.
Resumindo, este governador tem a responsabilidade de agir, de fazer muito pela credibilidade do sistema financeiro angolano. Ou, então, de viver com esse peso de que foi mais um que não fez nada.