Desequilíbrio macroeconómico: Desemprego e Política Orçamental
Embora exista uma multiplicidade de factores inerentes ao mercado de trabalho , presumo, que em primeira instância destaca-se a incapacidade de transformar os recursos naturais em riqueza, e crescimento económico sem gerar progresso. Tal facto inibe o desenvolvimento do capital humano e propicia o aumento do desemprego.
Um dos fenómenos socioeconómicos mais complexos e comum à nossa realidade, quer pelos impactos nefastos no nível de vida e na esfera psicológica dos cidadãos, é sem sombra de dúvidas o desemprego. Ao escrutinar esta variável macroeconómica, caracterizada pelo desequilíbrio no mercado de trabalho, a complexidade é maior por se observar interacções entre este desajuste económico a inflação e a pobreza. É evidente que não existem soluções perfeitas, mas reflectir em torno de políticas integradas poderá agregar valor para que surjam estratégias alternativas que impulsionem o crescimento económico e o fomento do emprego
Que interacções se estabelecem entre inflação e emprego?
Estudos econométricos realizados pelo FMI (Working Paper 23/46, Mar.,2023) com evidência empírica para a região da África Subsariana, demostraram que a inflação impede a criação de emprego. As principiais interacções que se estabelecem entre as duas variáveis testadas, foram as seguintes:
¦ Existe uma correlação não linear e negativa entre a inflação e a criação de emprego. Países com taxas de inflação superiores a 14% apresentam uma redução na criação de novos postos de trabalho, independentemente do sector de actividade e do regime cambial adoptado por estes Estados.
¦ Um aumento dos preços dos combustíveis tende a ser mais prejudicial para a criação de emprego do que aumentos dos preços de bens alimentares e serviços.
¦ O estudo fornece análises robustas que permitem aferir que o estado de implementação de reformas estruturais é um factor de extrema importância; os resultados estatísticos mostram que a inflação reduz as oportunidades de emprego, sobretudo em países com reformas estruturais débeis ou inexistentes.
Para a economia de Angola, cuja conjuntura actual não está dissociada da dinâmica a nível regional, seria benéfico abordar a interacção entre inflação e emprego, implementado as seguintes acções de políticas económicas:
1. Manutenção de estabilidade macroeconómica, e em particular, um nível adequado de inflação. 2. Combater a inflação, de modo a proteger as oportunidades já limitadas de emprego, e diminuir o desemprego da população jovem, a mais afectada por este fenómeno. 3. Criação de um ambiente de negócio previsível e favorável ao sector privado, de modo a aumentar a confiança dos investidores.
Que factores determinam a intensidade do desemprego em Angola?
Embora exista uma multiplicidade de factores inerentes ao mercado de trabalho , presumo, que em primeira instância destaca-se a incapacidade de transformar os recursos naturais em riqueza, e crescimento económico sem gerar progresso. Tal facto inibe o desenvolvimento do capital humano e propicia o aumento do desemprego.
Em segundo lugar, podia ser indicada a ineficiência dos instrumentos de despesas públicas, quando ocorre pouca optimização dos fundos públicos. O ideal seria uma política orçamental direccionada à criação de oportunidades para os jovens e com foco na realização de despesas reprodutivas.
Outro factor determinante é a contribuição limitada do capital humano no processo produtivo, principalmente na cadeia de valor para transformação de matérias-primas em produtos acabados. Isto acaba por se reflectir em pouca maximização do potencial da população economicamente activa. Mesmo que se argumente sobre o baixo índice de desenvolvimento humano e a inadequação de competências ao mercado de trabalho, factores institucionais (por exemplo, barreiras à entrada no mercado de trabalho) continuam a ser fundamentais para a percepção da intensidade do desemprego em Angola.
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