Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Falar verdade

Editorial

Vai ser um ano difícil para a maioria. Talvez fosse bom assumir isso perante os angolanos. Porque vão ser precisos todos para inverter esta situação a partir do último trimestre de 2022

Em momentos de OGE existe sempre alguma truculência na linguagem dos dirigentes, porque não é possível agradar a todos, porque a minha quinta vai ter menos meios, porque é preciso aconchegar interesses, leia-se projectos, que vêm do topo da pirâmide, que todos sabem que estão hipervalorizados, mas que não é politicamente correcto denunciar. Também as expectativas criadas pelos cidadãos acabam por não ser satisfeitas, alteram-se e mudam- -se as contas para ver se dá certo, utiliza-se a despesa primária com denominador e até parece que as verbas para os sectores sociais se multiplicam e acabam por assumir um peso interessante.

Esse não tem sido o discurso da ministra das Finanças, que me parece muito equilibrada nas suas intervenções, mas os que estão à sua volta com a ressonância da comunicação social pública tentam passar uma mensagem de fartura e bonança que, na verdade, não corresponde à verdade. Não consigo entender a quem é que interessa esta repetição "do está tudo bem e temos uma situação boa", quando todos sabemos que não é nada assim. É que ninguém acredita e só afasta o cidadão comum dos dirigentes e quebra elos de confiança que podiam existir.

Interessante também é a forma como se apresenta tudo isto. Os salários da função pública é um exemplo acabado. Vão aumentar, garantem os responsáveis. Quanto? Estamos a estudar. Mas um valor aproximado? Pois, depende da conjectura interna e internacional, do preço do petróleo, da Covid-19, blá, blá, blá.....Mas quanto? Já lhe disse vai aumentar. Vamos devolver o poder de compra às famílias angolanas. Outra pergunta se faz favor.

As contas também não são difíceis de fazer. O último aumento foi em Janeiro de 2019 e, ao que tudo indica, o próximo será em Janeiro de 2022. Três anos. Em 2019, a inflação foi de 16,9%, em 2020 de 25,1%, e este ano deve fechar à volta dos 28%, sendo que em Luanda o valor da inflação homóloga já está acima dos 30%. Para recuperar o tal dito poder de compra seria necessário um aumento perto dos 80%. Será que vamos mesmo devolver o poder de compra aos angolanos? Pois tenho algumas dúvidas, olhando para o OGE.

Mas 2022 é também um ano especial, de eleições. Onde existem sempre maiores desvios ao que está previamente programado, onde as pressões se acentuam sobre o Ministério das Finanças, que certamente terá um ano muito difícil. Se o petróleo se mantiver em alta, os excessos acabam por ser diluídos, mas se a economia no norte do planeta tiver alguns problemas, então serão sempre os sectores com menos força institucional que vão perder. E esses são os sociais, os que têm mais a ver com a vida dos cidadãos e menos com o bem-estar e as mordomias da elite. Vai ser um ano difícil para a maioria. Talvez fosse bom assumir isso perante os angolanos. Porque vão ser precisos todos para inverter esta situação a partir do último trimestre de 2022. Depois das eleições.