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Opinião

Realidades virtuais

Editorial

A "banga" própria da nossa cultura fez de nós os melhores do mundo em tudo o que nos metemos. E se tivermos dinheiro, então vamos fazer os maiores projectos do planeta. Deixamos que nos passem ao lado valores como o foco, a capacidade de trabalho, a expertise da estratégia certa, o sacrifício hoje para ter um futuro melhor, para depois só termos essa realidade virtual, perfeita e cor de rosa, para nos refugiarmos. Mas não há lugares para todos neste mundo.

Esta situação de o INE ter nos seus números um valor para a criação de empregos formais quase três vezes mais, repito três vezes mais, do que o valor do relatório do Ministério de Trabalho que tem como base o INSS, onde na verdade se registam todos os empregos formais do País, é no mínimo preocupante. Claro que são usadas metodologias diferentes, mas três vezes mais. Que garantia de credibilidade podemos ter nos restantes números que o INE nos apresenta?

Convém não esquecer que é com base nos números daquele instituto, tal como acontece na maioria dos países, que as políticas são traçadas e as medidas são implementadas. Será que isso não preocupa os governantes? Numa perspectiva de governação à vista, possivelmente terá pouco impacto, mas para uma visão de médio e longo prazo, fará certamente uma grande diferença.

Esta tendência para dourar a realidade, muito própria de um sistema que se alimenta de sonhos sem preocupações com a realidade colectiva, entranhou-se de tal maneira, que parece já um desígnio nacional. Lembro-me daqueles mais de 260 mil operadores económicos formalizados pelo PREI que semanalmente eram anunciados, mas que na Segurança Social só apareciam um pouco mais de 40 mil inscrições ao abrigo do programa. Lembro-me das reacções ao artigo que publicámos na altura e das palavras de um amigo, "há sempre duas maneiras de olhar, o copo meio cheio ou o copo meio vazio. Vocês olham sempre do lado do vazio".

Sabem o que me preocupa verdadeiramente? Criámos um sistema em que a quase totalidade dos servidores públicos não diz a verdade, antes o que o Chefe quer ouvir. Existe medo de assumir as debilidades do País e das políticas, como se fossem eles os culpados dos factos que estudam. Então a opção mais cómoda são os 260 mil formalizados, os números triplicados dos empregos formais, confundir intenções de investimento com dinheiro investido como acontecia até há uns meses atrás, confundir projectos com realizações, misturar cerimónias de lançamento da primeira pedra com inaugurações ou achar que a diversificação económica se faz nas reportagens da TPA.

A "banga" própria da nossa cultura fez de nós os melhores do mundo em tudo o que nos metemos. E se tivermos dinheiro, então vamos fazer os maiores projectos do planeta. Deixamos que nos passem ao lado valores como o foco, a capacidade de trabalho, a expertise da estratégia certa, o sacrifício hoje para ter um futuro melhor, para depois só termos essa realidade virtual, perfeita e cor de rosa, para nos refugiarmos. Mas não há lugares para todos neste mundo. E são cada vez menos os que lá conseguem o seu espaço, o lugar está mais apertado.

Curiosamente, e para bem da Nação, já há alguns com acesso a este programa de ilusões que preferem viver mais perto da realidade. Dos outros cidadãos. Com o tempo muda!

Leia o artigo integral na edição 793 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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