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"Decidi mudar as pessoas do meu bairro com a minha arte"

AVÔ ROCHA- HUMORIST

Não é avô, o jovem humorista que está a preparar o seu espectáculo para 19 de Outubro, no Tivoli, revela que os humoristas pretendem contribuir para a economia do País, pagando impostos. Ao Expansão o artista conta que parte do dinheiro que faz com o humor partilha com os seus vizinhos do Rocha Pinto.

Quem é o Avô Rocha?

Sou um humorista do estilo stand- -up comedy. Um menino que nasceu e cresceu no Rocha Pinto. E o nome foi propositado. Na verdade, não era meu, era de um senhor, meu parente. Decidi adoptar o nome Avô Rocha porque para além de ser sugestivo ao humor, eu queria tanto fazer alguma coisa em prol do meu bairro. Primeiro ser um artista e depois fazer parte das actividades sociais. E para isso acontecer na minha comunidade era necessário ser referência. Então, tinha que primeiro trabalhar muito em prol da minha carreira para ter o nível que tenho, e depois carregar o nome do meu bairro.

E como tem sido as acções sociais?

Trabalho muito em acções sociais no bairro. Estou ligado em alguns centros de formação, onde inserimos os jovens, cujos pais não têm possibilidade de pagar um curso profissional. Os beneficiados são inseridos mesmo nos centros da comunidade, para não haver desistência por falta de dinheiro de táxi. Não estou sozinho neste projecto, trabalho com a unidade policial da comunidade e com as igrejas.

Encontrou no humor uma arte para ajudar a sua comunidade?

E não só. Também ajudar a mim mesmo. Porque até antes de 2008 não fui um jovem com boas condutas. Estava ligado à criminalidade. Coisa que não me orgulha. Estou desde 2008 que não sei o que é fazer mal em alguém. E encontrei no humor uma terapia. O humor tirou-me das ruas. O humor orientou-me, porque eu vivo disso. Tenho seis anos de humor. Se o humor conseguiu-me salvar e tirar-me dos actos que nada agregam. Então porque não mudar a vida de outras pessoas? Até porque como artista tenho essa missão. Sou um agente directo social. Então decidi mudar as pessoas do meu bairro com a minha arte. Para depois também mudar todos.

Diz que começou há seis anos. Como é que surgiu o humor na sua vida?

Já fui um dos jovens que mais falava no meio dos amigos. Fazia rir as pessoas. Mas para profissionalizar foi por intermédio de quatro amigos. KMC, Cretzon, David Bito e o Lito. Eles realizavam a as " terças culturais". E um desses dias um deles, que era o apresentador, ficou incomodado e convidaram-me para o substituir, aceitei e fui fazendo, até hoje.

Como tem sido a experiência?

Tenho gostado da experiência. Principalmente pelo nível que estou. Neste momento. Tenho dois prêmios como humorista. Estou bem, porque na minha geração tenho recebido carinho de colegas como Os Tuneza e de outros da minha geração.

Os prêmios são importantes?

Apesar de que alguns olham como monopólio. Eu dou muito valor aos concursos e às instituições que dão oportunidades às pessoas. Quem tira tempo para criar um projecto funcional para pensar na oportunidade ao outro merece ser valorizado. Não é para lhe combater. Esses programas como Estrelas ao Palco, Tropa d"Os Tuneza que levou os artistas em Portugal com tudo pago são importantes para a classe.

Também participou da nova temporada?

Participei sim, na segunda edição do Tropa d"Os Tuneza e ganhei. O público ainda não sabe, porque está a decorrer a primeira edição. Depois é que vai passar a segunda edição que é onde ganhei. Trouxe o prêmio de um milhão para casa, para o meu Rocha Pinto.

E essa relação com outros artistas permite o crescimento?

Sim. Permite o nosso crescimento, porque somos de uma só classe. A ideia é estarmos juntos e em prol de uma só classe, que é o humor. E um dos objectivos do humorista, ou de qualquer um artista em função da sua área, é trabalhar para a continuidade do humor. E trabalhar para a continuidade do humor é aceitar que surjam novos humoristas. Tenho dito sempre que o que faço, tem alguém que faz muito bem. Só não tem a mesma oportunidade que tenho. Por isso, quando vejo um artista, colega meu, a ter uma má performance, sinto vergonha. E quando vejo uma performance errada, chamo o colega e partilho com ele o que sei para o mesmo melhorar.

Quais são os temas que aborda nas suas actuações?

O humor não tem limites. Mas o humorista é que deve ter limites do humor a levar. De um tempo atrás tenho feito um humor negro, que é uma coisa que não se identificamos muito aqui, porque nós angolanos somos mesmo educados. O humor negro é estilo realizado nos Estados Unidos, no Brasil e em Portugal. É o humor onde o artista é insano nos seus conteúdos. E nós não estamos ainda preparados, por isso, alguns humoristas ainda não são compreendidos no nosso mercado. Embora que o mercado tem estado estado a se desenvolver. No palco eu levo terapia, em função do tema.

Diferente da actuação no programa na Grelha?

As pessoas confundem com o programa na Grelha, que é um programa onde convidamos uma figura pública para homenageá-lo em forma de "estiga". Que é o sarcástico. Agora o stand up comedy é o espectáculo, claro que há um cuidado com a linguagem para não ofender a moral pública e também tenho a capacidade de analisar se na sala tem ou não criança. No palco levo o quotidiano. Eu falo muito que sou humorista urbano. Nas minhas actuações tudo que conto acontece no meu bairro.

No Rocha Pinto há sempre matéria-prima?

Nós temos situações que se se parar para tornar aquilo em piada, podem surgir muitos outros humoristas. É aqui em Angola que o humorista deve ser engraçado. O humorista deve ter uma veia cómica. Na Europa o humorista não precisa ter necessariamente uma veia cómica. Só precisa estudar o humor como ciência e depois tornar piada.

Leia o artigo integral na edição 791 do Expansão, de sexta-feira, dia 30 de Agosto de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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