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"Enquanto tivermos políticos incompetentes eu vou ser humorista"

Tiago Costa

Os programas de humor em Luanda já têm casa fixa. Trata-se do GOZ"AQUI Comedy Club, mesmo à entrada da Ilha. O espaço vai albergar as propostas que façam soltar a risada inteligente. Quadros de humor não faltam, enquanto houver "políticos incompetentes". O Expansão falou com o mentor do projecto, Tiago Costa.

Lembra-nos como surgiu o projecto GOZ"AQUI?

Fui desafiado por um amigo a criar um cenário de humor no espaço dele, mas na altura sabia que não podia criar nada que fosse apenas para aquele espaço, porque podia deixar de existir e eu tencionava continuar com a minha criação. Portanto, diante disto, procurei uma palavra que fosse transversal na língua portuguesa, principalmente de Portugal, Brasil e Angola, por serem os meus principais mercados. Embora no Brasil a palavra "gozar", na gíria, quer dizer atingir o orgasmo, não é mal de todo porque quem criou o português foram os portugueses e o "aqui" representa a mobilidade do projecto.

Vai reinaugurar o GOZ"AQUI Comedy Club para os vossos eventos. Como será a agenda?

Inaugurámos o espaço em Fevereiro de 2021. Durante os últimos sete anos estivemos em vários sítios, porque não tínhamos um espaço específico. No último ano, percebemos que podíamos trabalhar de forma mais regular, porque nos últimos anos produzimos muitos conteúdos, produzimos para a rádio e para a televisão. Chegámos então à conclusão que temos conteúdos para, de segunda a sexta-feira, as pessoas estarem a "curtir" os shows. Veio a pandemia, apertou durante o período de calamidade e, agora, que voltou a abrir, vamos começar no dia 16 de Agosto com um programa de cinco dias seguidos. Todas as segundas-feiras serão dias de talk show, as terças serão de stand up comedy, às quartas-feiras haverá `Sopa Saber", um programa que tínhamos na televisão e que regressa ao vivo, às quintas-feiras será o Goza e Fêmea, um programa que é dirigidos por mulheres para toda a família, sendo que os outros são para maiores de 18 anos, e às sextas-feiras haverá stand up, outra vez. Para os fins-de- -semanas, ainda estou a pensar se não coloco aqui um Karaoke, porque sou maluco e entretenimento é sempre entretenimento.

O espaço será preenchido apenas por vocês ou vão rentabilizar?

Já estamos a rentabilizar. Neste momento, alugamos o material e o espaço também está disponível para subalugar no período da manhã, porque, por norma, os shows serão sempre ao final do dia.

O espaço está mesmo à entrada da ilha. É uma zona favorável?

Espero que sim, mas vai depender um pouco da vizinhança. Acho que aqui em baixo eu vou servir, se conseguirem ver-me assim, para aliviar um pouco a enchente lá em cima, o stress. Imagina que os restaurantes estão cheios, eu tenho uma sessão aqui, as pessoas descem para se divertir e depois sobem. Mas também tenho a noção que a gestão, a economia e as finanças são uma coisa muito estranha. A minha experiência diz que muitas pessoas preferem não ganhar dinheiro com as coisas bem feitas já eu tenho a dificuldade de fazer as coisas "no joelho". Não gosto. Então, às vezes, é complicado. Mas, se no final do dia quisermos todos subsistir com dignidade, acho que podemos todos fazer um bocado.

É humorista?

Sim. Sou humorista. Trabalho nisto já a caminho de 9 anos.

Lembro-me de ter dito que não se considerava humorista? Até 2018.

Antes disso, estava mais por detrás das câmaras e, quando fosse necessário, para reduzir custos, fazia as apresentações. Mas foi efectivamente em 2018 que assumi que daí adiante faria humor. Esse assumir-se como humorista foi também por causa do contexto que o País vivia e vive? Não. Foi pessoal, até porque se fosse pela situação económica, por exemplo, nunca seria humorista, seria advogado ou qualquer outra coisa, que é mais seguro e que dá dinheiro, de facto. Mas não, foi uma decisão pessoal. Na altura, eu trabalhava com algumas pessoas e criava alguma expectativa e, às vezes, as coisas não se realizavam. E perguntei: porquê esperar dos outros o que posso fazer!? Foi o que me fez assumir.

Sobre a formação em Direito, pensa exercer a actividade de advocacia?

Se a vida me correr muito mal e se o humor não der certo, vão me ver rico. Infeliz, mas rico, ou seja advogado.

Considera-se uma pessoa pobre?

Digamos que sou feliz.

É pobre?

Ya (risos). Posso dizer que não tenho a vida dos políticos.

Já vive do humor?

Já se vive só do humor, sim, se assumirmos que o salário mínimo é de 36 mil Kz e no País há pessoas que vivem com este valor mensalmente. Eu diria que o mínimo que se poderá receber para fazer um show de stand up é de 500 Kz por minuto. Isto é dizer que se o show fizer uma hora tens 30 mil Kz. Mas isto é na teoria. Definitivamente, se há pessoas que vivem com 36 mil Kz por mês, então vive-se do humor. Eu, particularmente, faço outras coisas, sou assessor de imprensa e comunicação e imagem. Gosto muito do que faço, tenho muita sorte porque nem todo mundo faz o que gosta, mas muita gente que não faz o que gosta faz mais dinheiro do que eu (risos). Mas é uma questão de prioridades. Para já, acordo com sanidade tranquila, durmo satisfeito. Para já, estou feliz.

(Leia o artigo integral na edição 638 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Julho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)