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O lounge onde se pratica a ética dos aficionados de charutos

D- Cigars Sky Lounge

Há uma ética própria e amizades em forma de compromisso entre os aficionados do charuto, que periodicamente, ou quase todos os dias, combinam encontrar-se no D-Cigars Sky Lounge, um terraço de Talatona, de onde se avista o Mussulo.

Mas o ritual também pode ser na introspecção individual, respeitada pela equipa de colaboradores, que já conhece os gostos e hábitos de cada cliente, que, sem proferirem palavra, são servidos pela ordem que apreciam: leite, água com gás fresca, morrito sem álcool ou vice-versa.

Nos momentos que antecedem passam pelo cacifo individual e levantam o guardanapo personalizado.

A sala de degustação de charutos no D-Cigars Sky Lounge é o ambiente à medida de quem privilegia boas amizades, e que a partir destas, remetem para profícuas conversas, reabilitando pessoas para hábitos saudáveis, descobrindo gostos comuns, com uma certa linhagem.

"Há uma identidade comum entre os aficionados dos charutos", explica DoriWilker, o empresário-mentor do projecto, fumador há duas décadas. (O "D" de D-Cigars vem de Dori). Comprou a primeira caixa de charutos em Portugal, recorda-se bem, "era Romeo y Julieta, ainda guardo a caixa no bar da ilha", a primeira estrutura temática que abriu em Luanda há 3 anos, considerada a "catedral" dos charutos na capital, complementada com bar, vinis, jornais e tabuleiros de xadrez, para jogar, naturalmente, a par de outros dois de dimensão mais pequena, uma espécie de corners de charutos no Lokanda e no Intercontinental.

O projecto mais recente é o D-Cigars Sky Lounge, em Talatona, um "casamento de conceitos, para vir em família", com restaurante, com assinatura da Chef Raquel Pimenta, angolana formada em Portugal.

O "Cigars bar" leva o prazer e a "afición" fora de portas. Dois sommeliers, que fazem formação contínua em Cuba, ajudam a encontrar as notas mais procuradas pelos aficionados e DoriWilker sabe que os charutos que o serviço de entregas faz chegar a eventos, festas familiares e casamentos satisfazem o mercado. O mesmo ponto de partida que também fornece charutos a bares e restaurantes.

Produto altamente taxado

Perfeccionista, DoriWilker, impôs um ambiente acima da média, com uma equipa de colaboradores 100% angolana, que recebe formação quase todos os fins-de-semana.

"Quero mostrar que aqui também é possível", refere, orgulhoso dos 52 postos de trabalho directos e alguns directos, que os projectos permitiram.

A responsabilidade e o compromisso com os trabalhadores foi abalada pela pandemia, com a baixa de facturação a rondar os 40%, com as restrições impostas pelo vírus global, ainda por cima numa área de negócio "altamente taxada", aos produtos premium que compra em Cuba, República Dominicana, Nicarágua, Portugal, Espanha e Bélgica.

São 96% de carga tributária, a somar ao valor dos despachantes, esfumando-se numa carga fiscal que chega aos 140%.

Custos que Dori remete para segundo plano, quando em primeiro está o serviço premium que presta, com a garantia de produtos originais, de qualidade. "Em Angola já se venderam charutos "cubanos" a 50 mil Kz, que em Portugal custam 900 euros", trabalho de disciplina do mercado que também implementou no País, no que toca aos charutos.

Exigente com a marca "qualidade", Dori não se resignou e criou a sua própria marca de charuto. D"Patron, feito de forma artesanal, enrola as melhores folhas compradas aos melhores fornecedores. "É o segundo charuto marca angolana", que pode ser degustado com o rum da mesma marca própria, produzido em Benguela.

O modelo de negócio assenta na mesma proximidade e no circuito da amizade pelos charutos. "Mando limpar os tapetes a um cliente do lounge, os fornecedores de bebidas são aficionados de charutos, e por aí adiante", explica DoriWilker que tem clientes de várias nacionalidades e de todas as faixas etárias.

E depois, há os que "entram tristes, com ar pesado", outros "até bebiam e agora reduziram ou deixaram de vez de consumir álcool", conta o empresário e aficionado que traduz estes momentos de "reflexão", a partir dos quais "o que daí advém compensa".

O aficionado não vê mais prazer e vantagens que contra-indicações do vício. Tem consciência destes, mas argumenta que "não se travando, o fumo não vai para os pulmões", ao contrário do cigarro tradicional.

Uma espécie de "liga de cavalheiros"

Chegados ao apogeu da paixão pelos charutos, quis saber o Expansão em que é que reside tamanho apego, ritual, estilo e gosto da apelidada "liga de cavalheiros", que no dia da reportagem se juntou a Dori, no lounge.

Em comum têm uma amizade que o charuto aprimorou. Cada um verte para a conversa as etapas pelas quais passa o processo de degustação do charuto. É mesmo um processo, com etapas bem definidas, como que ritual bem dominado por entendidos que "topam" ao longe quem é ou não aficionado exímio de longa data. "Basta o segurar ou a formar como se acende o charuto", refere Fábio Silva.

Mas é Doriwilker, o mais experiente nas lides, que explica passo a passo, o ritual de degustação: primeiro, o corte ou furo; segundo, o acendimento, e por fim, a degustação.

Sim, a degustação, o prazer de "enrolar" as notas de cada charuto na cavidade bocal para daí extrair a origem daquelas folhas de tabaco, das notas de café ou as mais adocicadas, ou as de baunilha ou o sabor a pimenta, a cedro e outros.

E um bom aficionado sabe sempre identificar as notas de cada um.

E depois? "Bom, não basta fumar por fumar", acrescenta Joel Almeida, para quem a parte inicial da queima "permite descobrir os principais sabores". Primeiro, uma puxada, sente-se o momento, saboreia-se e depois é deixar o fumo sair. Cada aficionado tem o seu tempo - uns de maneira mais rápida, outros de forma mais demorada.

É na fase de acender que o charuto mostra a sua "fortaleza", uma combustão que consome folha por folha, libertando "notas de café ou mais adocicadas" continua o aficionado, que confessa que o "final sabe sempre a pouco".

Dori, Joel e Fábio concordam que o momento da degustação não é um processo único, mas "vários processos", aos quais se segue a derradeira "morte do charuto", que os aficionados prezam que seja "digna", o mesmo é dizer "queimando naturalmente, até deixar de fazer combustão", referem, enquanto ilustram cada um, a sua arte. A cinza tem que cair sozinha, bater não, isso é para os cigarros. Até porque quando um charuto é de alta qualidade mantém as cinzas até ao fim, sinal de que foi bem enrolado.

Joel Almeida não consome álcool, apenas chá e sumos. É o charuto que o desinibe, que "me dá liberdade e ousadia de falar", independentemente da idade, "de tu para tu abrimos certos temas, que não teríamos se não fosse o charuto".

Fábio Silva sintetiza, "quem fuma charuto é meu amigo", hábito que tem o mérito de "resgatar pessoas para hábitos saudáveis", cujo processo de interação vai criando "uma ética e acordos de cavalheiros", porque estão no mesmo espaço, partilham a mesma cultura.

Joel, o aficionado caçula do grupo, conhece Dori há uma dúzia de anos, já fumou em diferentes lounges na Malásia, África do Sul, Estados Unidos e em Portugal, mas nenhum, considera, "tem o serviço costumizado que o Sky Lounge disponibiliza", refere. Em Luanda ou em qualquer outra parte do mundo "quando me apercebo estou a falar de trabalho, de família de gostos pessoais, como se nos conhecêssemos há muito".

Fábio acrescenta com o "elo forte" que desponta naturalmente, "mesmo quando vimos para o lounge para trabalhar, reunir por videoconferência, responder a emails", numa alusão ao espaço que não lhes é estranho, pelo contrário.

Doriwilker quis trazer para Angola, o seu País, o prazer que os aficionados só tinham quando viajavam e "Angola, por ser uma sala de negócios precisa de um local assim, que permite até o networking", explica o mentor.

Nem só de charutos...

O D-Cigars também dispõe de esplanada, com vista para Luanda Sul e para o Mussulo, sala de degustação de charutos e restaurante, com cozinha assinada pela Chef Raquel Pimenta.

Do menu constam entradas, pratos principais, sobremesas, e uma boa seleção de tapas. É à volta destas últimas que grupos de amigos se "perdem".

A carta de vinhos é dominada por néctares portugueses. Para beber tem ainda como opção excelentes cocktails, feitos com frutas naturais e ingredientes de qualidade.

Há uma sobremesa icónica que não deve perder. O Choco Gordito Patrón, sobremesa em formato de charuto, de chocolate com recheio de doce de leite e bolacha crocante, acompanhado com gelado de natas, receita da chef que assina a cozinha do D'Cigars.

Raquel Pimenta, luso-angolana, é formada em Hotelaria e Turismo em Viana do Castelo. Estagiou no Sheraton, Porto. Até 2013, trabalhou em diversos restaurantes na cidade Invicta.

Em Angola, foi Chef de cozinha no Kianda, até 2016. Foi directora do Departamento de compras e logística nos Casinos de Angola até 2019 e em 2020 regressa a Portugal onde faz uma temporada no Algarve, no Parrilla Natural. Em 2021 aceita o desafio e regressa a Angola para trabalhar no D'Cigars Sky Lounge.

Localização:

Talatona Avenida AL19 4 andar, fração 401

Contactos:

T: 923 020 101

https://www.facebook.com/D_Cigars_Sky_Lounge-106764651458912/

https://www.instagram.com/d_cigars_sky_lounge/

Horário:

De 2ª a 6ª: 12h00/22h00

Sábado e Domingo: 10h00/22h00