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Opinião

Discurso positivo

Editorial

Em entrevista nesta edição, Luís Lelis define a actual situação económica desta forma: "Estamos no meio do olho da tempestade perfeita". E justifica a turbulência com o alto endividamento, reservas líquidas internacionais baixíssimas, inflação muito alta, famílias a perder os empregos, empresas a fechar.

Na verdade, o barco está a abanar, mas não podemos correr o risco de nos deixarmos ir ao sabor das ondas, que, por vezes, embora desconheça muitos dos ventos, me dá a sensação que está a acontecer. Uma posição mais reactiva que proactiva, se me faço entender.

Obviamente que todos temos de estar atentos a esta viagem, é muito complicada e não vale a pena fingir que desatar este nó da nossa economia será fácil, mas também é extremamente desafiante. Tal como foram outros momentos da nossa História, em que os becos pareciam hermeticamente fechados, mas na verdade tinham uma pequena abertura, por onde acabámos por passar. E desta vez não vai ser diferente.

Por isso começa a incomodar-me um discurso público fatalista que se repete em muitos locais, como se estivéssemos à beira do abismo sem qualquer solução. Não é verdade. Pode demorar mais tempo do que as nossas expectativas exigem, pode não ser da forma que sonhámos, podemos inclusive ter de entregar alguns dos nossos anéis, mas ainda não é desta que este "estabelecimento" vai fechar.

E tudo começa em nós. Primeiro fazer o melhor que pudermos, depois ter um discurso positivo e, a finalizar, manter o sentido crítico para que nunca mais se repitam as situações que aceitámos com o nosso silêncio. Hoje temos de perceber que somos todos responsáveis por esta situação que vive a nossa economia. Pelo menos os mais velhos, os que viveram as diversas etapas por que passou o nosso País, que sofreram nos momentos maus, mas que também beneficiaram nos momentos de fartura.

Acredito que existe uma massa de gente, até agora anónima, que começa a aparecer com disposição suficiente para marcar a sua posição, com boa cabeça e bom coração, que no limite vai contribuir para um País melhor. Por vezes, reaparecem em cena alguns dos actores de outros filmes e isso pode ser desmoralizante. Prefiro olhar para as mudanças que nunca mais voltarão para trás.

Sem parecer excessivamente optimista, parece-me que somos capazes de construir uma nova Angola. Todos. Mesmo aqueles que, nesta altura, estão um pouco irritados por terem perdido os seus privilégios. Vai-lhes passar e, se quiserem ajudar, vão acabar por ser bem-vindos. Se quiserem trilhar os seus passos por outros caminhos, então que o façam sem olhar constantemente para trás.


Editorial da edição 552 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Novembro de 2019, já disponível em papel ou em versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui.