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Opinião

As construções racistas e os equívocos sobre o outro

Ideias e Visões

A morte cruel, cobarde e desumana de George Floyd vergou o universo, rendido ao clamor de mudanças urgentes nas relações humanas e sociais.

Um forte movimento de protestos anti-racistas tomou as ruas das grandes cidades, os debates políticos, as pautas das redacções dos jornais, das rádios e das televisões. A tragédia trouxe de volta velhas e acesas discussões sobre a justiça social, a equidade de trato, entre os homens, independentemente da cor da pele. A morte de George Floyd e de tantos outros negros, nos EUA ou em qualquer outra parte do mundo, revela bem os equívocos construídos à volta da ideia de uma história da civilização ocidental. Mas é preciso recuar no tempo para compreendermos as motivações de tais posturas racistas. A origem de todo esse imbróglio foi muito bem relatada pela historiadora brasileira Leila Leite, remonta ao século XVI, quando surgiu o racionalismo como método que se desenvolve e se consolida, entre a metade do século XVIII e a primeira metade do século XIX. Foi lá que o filósofo Friedrich Hegel (1770-1831), como porta-voz do pensamento hegemónico, fez uma representação equivocada do outro, especialmente do homem negro. De lá para cá, pouco ou nada mudou. Houve avanços, é certo, mas o mundo continua a caracterizar as relações entre os homens pelas diferenças. O vírus do racismo continua a marcar o tratamento referencial da alteridade, fundamentalmente, com relação aos povos indígenas, ciganos e, estrondosamente, sobre os afro-descendentes, ao continente africano e aos seus cidadãos. É doloroso constatar que as sociedades modernas não conseguiram realizar na sua plenitude os três pilares da Revolução Francesa de 1789. Com todos os seus limites, a liberdade avançou, em todos os níveis, rompeu tabus e, às vezes, gerou excessos, como diz o padre Adriano Sella. Mas as outras duas dimensões da era moderna, a fraternidade e a igualdade, não se concretizaram. As evidências estão aí. E são, exactamente, os comportamentos racistas, baseados em características fisiológicas. São essas acções que trazem ao de cima uma ocultação da complexidade da dinâmica das sociedades actuais.

*Docente Universitário

(Leia o artigo integral na edição 580 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Junho de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)