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Opinião

Uma boa notícia que não dá para embandeirar em arco

Editorial

Os juros que os mercados exigem a Angola baixaram. Mas foram dos que menos desceram e continuam a ser os terceiros mais altos entre 15 países da África subsariana

Para quem diz que só dou más notícias aqui vai uma boa: As yields dos eurobonds angolanos iniciaram esta semana nos 9,45%, 0,05 pontos percentuais (pp) abaixo da taxa a que foram emitidos. Como é uma boa notícia vem em linguagem cifrada para ninguém perceber, insistirão os que acham que sou um pessimista militante e que só dou boas notícias contrariado. Calma! Eu traduzo do economês.

As yields, ou taxas de rendimento, correspondem grosso modo às taxas de juro que o mercado exige aos emitentes. Concretizando, em 4 de Novembro de 2015, na primeira ida aos mercados financeiros internacionais, o Tesouro angolano colocou 1,5 mil milhões USD de obrigações soberanas, denominadas eurobonds, com um prazo de 10 anos, à taxa de 9,5%.

Se Angola fizesse na última segunda-feira uma nova emissão de obrigações soberanas com as mesmas características dos referidos eurobonds pagaria apenas 9,45%, em vez dos 9,5% conseguidos em Novembro. Eurobonds são títulos de dívida emitidos numa moeda diferente daquela do país onde são cotados. Os títulos angolanos foram emitidos em dólares na Irlanda, país cuja moeda é o euro.

Esta não é a primeira vez que as yields dos eurobonds angolanos ficam abaixo da taxa a que foram emitidos. As taxas da primeira sessão não ultrapassaram os 9,21%, permanecendo abaixo dos 9,5% durante praticamente todo o primeiro mês.

A partir do início de Dezembro, as yields iniciaram uma escalada ascendente com picos próximos dos 13,5% em Janeiro e Fevereiro, coincidindo com a descida do preço do petróleo.

Aliviaram nos meses seguintes para taxas inferiores a 10% com ligeiros sobressaltos, o último dos quais quando o Governo desistiu do pedido de auxílio financeiro ao Fundo Monetário internacional, no início de Julho.

Sendo as yields uma referência dos juros que os mercados exigem, a sua descida é uma boa notícia porque significa que os mercados consideram menos arriscado emprestar a Angola.

Contudo, essa boa notícia não é motivo para embandeirar em arco. A descida das taxas de rendimento angolanas inserem-se num movimento de descida generalizado em África. Num grupo de 15 países subsarianos, Angola regista apenas a décima maior descida das yields em 2016. No mesmo grupo, a taxa de Angola ainda é a terceira mais alta, apenas inferior às de Moçambique e da República Democrática do Congo, mais do dobro das da Namíbia e África do Sul e 3 pp acima da Nigéria.