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Iniciativas

GebRaa: uma nova espécie da empresa

Egipto

Uma empresária socialmente consciente adopta uma abordagem sistémica para trazer mudanças ao Egipto. E recuperar o artesanato ancestral, ameaçado pela produção massiva de produtos chineses baratos.

Certos empreendedores sociais geram empregos; outros trabalham para preservar o património cultural ou salvar o meio ambiente. Rania Salah Seddik, a fundadora de 35 anos de GebRaa para Tesouros Egípcios, faz as três coisas - e muito mais.

Não demorou muito para que encontrasse a sua vocação. Depois de obter diplomas em economia e políticas culturais, ela trabalhou e candidatou-se numa longa lista de organizações nacionais e internacionais, da USAID aos Médicos sem Fronteiras até à UNICEF, sempre a esforçar-se para promover o bem-estar social e económico. Em 2008, já havia descoberto como reunir todas as suas paixões: Rania criaria uma empresa de venda de artesanato produzido de forma sustentável por artesãos egípcios.

Depois de escolher o nome GebRaa - "Geb"é a Terra do Egipto, "Raa" é o sol do Egipto -, ela começou a atravessar o país para encontrar artesãos que ainda praticavam artesanato tradicional, alguns que remontavam há milhares de anos. Nas suas viagens, descobriu caixas de madeira com complexas encrustações de madrepérola; vidro soprado em cores vibrantes; apliques de tecidos outrora usados em tendas do deserto; têxteis trançados à mão e bordados finos. Cada um tinha uma história incrível, e ela aprendeu tudo o que podia.

Rania também descobriu a precariedade de muitos desses artesanatos - um artesão especializado em marchetaria (ornamentação de móveis) de madrepérola tinha apenas agora cinco dos 40 funcionários. Entre as muitas causas desse declínio estava a falta de apreciação dos egípcios pelo seu próprio património, a sua incapacidade de pagar pelos bens de maior qualidade e a invasão de reproduções chinesas baratas vendidas a turistas.

Seddik sabia que para trazer mudanças duradouras ela teria de adoptar uma abordagem holística; o seu objectivo era ajudar os artesãos a agilizar e adaptar a produção para aumentar a lucratividade e encontrar novos mercados internacionais para as suas criações.

Era ambicioso, mas os benefícios em potencial eram consideráveis. De forma mais geral, a sua inciativa ajudaria a preservar a cultura egípcia e a apoiar a diversidade cultural em todo o mundo. Localmente, daria aos artesãos mais renda, respeito e status nas suas comunidades, permitindo que transmitissem as suas habilidades às gerações mais jovens e gerassem empregos. "Eu sabia que se eu conseguisse criar trabalho para os artesãos nas suas cidades ou arraiais, eles não teriam qde migrar para o Cairo ou mesmo para outro país", explicou Seddik.

Ela era experiente o suficiente para saber que os objectos tradicionais precisariam ser ajustados para atrair uma clientela internacional sofisticada, então contratou um designer para trabalhar com os artesãos (mais recentemente, ela lançou toda uma linha de decoração de casa da GebRaa). Rania também sabia que assegurar-se de que os produtos fossem ecológicos, 100% egípcios e oriundos de comércio justo seriam importantes argumentos de venda.

Depois de estudar várias opções, Seddik tomou a firme decisão comercial de evitar vendas em pequenos retalhistas em favor dos negócios directamente de empresa para empresa (B2B), frequentando feiras internacionais de comércio e comercializando os seus produtos com importadores, distribuidores e galeristas - ela agora vende para os Estados Unidos, a Europa e o Líbano. No Egipto, as criações da GebRaa são vendidas nas lojas duty-free do aeroporto e nos mercados de artesanato de luxo, e as empresas geralmente encomendam-nas como presentes corporativos. Actualmente, Rania está a investir para que o seu site se torne uma ferramenta B2B que atenderá a clientes tanto no Egito quanto no exterior.

Apesar de a GebRaa já ter saído do vermelho (ela deu lucro pela primeira vez em 2017, numa facturação anual de 17 mil USD), o sucesso não foi fácil e é um testemunho da bravura e da tenacidade de sua fundadora. Em 2011, Seddik conseguiu fazer a sua iniciativa descolar graças a um prémio SEED de 8 mil USD por Empreendedorismo em Desenvolvimento Sustentável. "Mas tudo ainda era muito difícil", lembra. "Então eu entrei numa competição do Banco Mundial e ganhei 25 mil USD. Isso me ajudou a relançar o meu projecto numa escala maior. Recrutei alguns funcionários e encontrei vários artesãos noutras províncias egípcias. Também entrei em contacto com membros da diáspora egípcia para me ajudarem a encontrar mercados para os nossos produtos".

Desde 2014, a GebRaa tem sede no campus GrEEK, o primeiro parque de tecnologia e inovação do Cairo. Ela actualmente tem uma equipa de quatro funcionários, três estagiários e um batalhão de profissionais independentes. A sua meta é que a GebRaa seja um trampolim para outras iniciativas; Rania já lançou a Fundação Karama, cuja missão é promover o surgimento de novas gerações de artesãos através de estágios e programas de educação continuada.

"Recebemos recentemente uma doação de 250 mil USD da Fundação Drosos para ajudar a reavivar o artesanato egípcio com marchetaria", disse ela com satisfação. "Tudo o que precisamos agora é de aprovação do governo".

Mais a longo prazo, Seddik espera que a Karama (que significa "dignidade") ajude a atender as necessidades básicas das comunidades onde os artesãos vivem e trabalham: água potável, sistemas de esgotos, educação. Em última instância, ela adoraria ver a GebRaa ganhar dinheiro suficiente para financiar muito do trabalho da Karama, fechando assim o círculo que começa com o artesão sentado no seu tear ou bancada de trabalho...

http://gebraa.com/