Crude: Geopolítica, produção e perspectivas
Apesar de o preço actual ainda proporcionar conforto orçamental, o país continua exposto à elevada volatilidade dos mercados energéticos. A resposta deve passar por medidas estruturais: consolidação fiscal, reforço das reservas, diversificação económica e criação de um ambiente atractivo ao investimento privado.
À medida que avançamos em 2025, o mercado do petróleo permanece no epicentro da conjuntura global. Entre dados relevantes e eventos geopolíticos, o crude continua a oscilar num equilíbrio delicado - com consequências profundas para exportadores como Angola, cuja economia mantém uma forte dependência das receitas petrolíferas.
Segundo o mais recente relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), a procura global de petróleo deverá atingir 104,4 milhões de barris por dia (mbd) em 2026, com um crescimento modesto em 2025. Este abrandamento deve-se, em grande parte, ao enfraquecimento das economias desenvolvidas e ao impacto das medidas de transição energética. Ainda assim, mercados emergentes como a China e a Índia continuam a liderar o consumo, sustentando parte da procura global.
No lado da oferta, a OPEP+ retomou um ciclo de aumento de produção em resposta à estabilização dos preços e à necessidade de recuperar quota de mercado. Em Julho de 2025, a organização anunciou um novo aumento de 548 mil barris por dia a partir de Agosto, totalizando 2,2 milhões desde Abril. A Arábia Saudita, por exemplo, registou em Maio a sua maior exportação de crude em três meses, com 6,19 milhões de barris por dia.
Resumindo, em 2025, a oferta média diária de petróleo deverá crescer cerca de 1,6 milhões de barris face ao ano anterior, enquanto a procura projectada aumentará apenas 740 mil barris por dia. Até 2030, projecta-se um contexto de oferta amplamente superior à procura, com capacidade global acima de 114 mbd e procura estabilizada perto dos 105-106 mbd. Este desfasamento entre oferta e procura - bem visível no gráfico - poderá colocar pressão adicional sobre os preços e reduzir as margens de exportação para países produtores, a menos que surjam choques geopolíticos ou cortes significativos por parte da OPEP+.
E por falar em choques geopolíticos, os recentes ataques entre Israel e o Irão em Junho fizeram disparar o preço do Brent em cerca de 20%, com o Irão a voltar a ameaçar fechar o Estreito de Ormuz - por onde transita cerca de 20% da oferta global. Na região do Curdistão iraquiano, ataques com drones interromperam cerca de 150 mil barris por dia. A isto somam-se os efeitos prolongados das sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia, que continuam a limitar a capacidade de exportação de um dos maiores produtores mundiais, apesar de a Rússia ter conseguido contornar muitas restrições através de rotas alternativas e uma "shadow fleet" de navios-tanque. Estes eventos evidenciam o risco constante de rupturas na cadeia de abastecimento e disparam a volatilidade dos preços.
Actualmente, o preço do Brent ronda os 66 a 72 dólares por barril. A combinação entre maior produção, crescimento contido da procura e tensões políticas mantém os preços relativamente estáveis, mas sujeitos a rápidas variações. O risco de um novo bloqueio do Estreito de Ormuz ou escalada nos conflitos pode facilmente levar os preços de volta acima dos 80 dólares.
No entanto, para Angola, este cenário exige prudência. Apesar de o preço actual ainda proporcionar conforto orçamental, o país continua exposto à elevada volatilidade dos mercados energéticos. A resposta deve passar por medidas estruturais: consolidação fiscal, reforço das reservas, diversificação económica e criação de um ambiente atractivo ao investimento privado.
2025 marca um ponto de inflexão no mercado petrolífero: entre decisões estratégicas da OPEP, desafios geopolíticos e mudanças estruturais na procura global, o petróleo continua a ser uma fonte de receita vital - mas já não é garantia de estabilidade. Para Angola, o desafio está em transformar este momento em oportunidade, antecipando riscos e preparando o futuro além do crude.
*Bruno Janeiro e Bernardo Barcelos, Fundadores da Air Trading