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Angola

Depois da fuga dos chineses, novo operador inicia funções no Porto do Lobito

AFRICA GLOBAL LOGISTICS INVESTE NA GESTÃO DO PRINCIPAL TERMINAL DO SEGUNDO MAIOR PORTO DO PAÍS

De origem francesa, a AGL pretende triplicar a produtividade e passar de 15 movimentos por hora para 40 movimentos. O Porto do Lobito e o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) são pontos-chave do Corredor do Lobito, que (re)colocou a cidade homónima no centro de um despique global.

Quando o Governo anunciou, em Janeiro de 2022, que o concurso internacional para a gestão do terminal multifunções do Porto do Lobito tinha sido ganho pela China International Trust Investment Corporation (CITIC) e pelo Shandong Port Group (SPG), poucos imaginariam que pouco mais de dois anos depois, a 27 de Março de 2024, a empresa de origem francesa Africa Global Logistics (AGL), que faz parte da multinacional Mediterranean Shipping Company (MSC), estaria a inaugurar oficialmente a sua concessão no segundo maior porto de Angola.

A rápida saída das empresas chinesas daquele negócio nunca foi explicada oficialmente, mas as informações obtidas pelo Expansão indicam que a desistência foi essencialmente motivada por pressões e razões estratégicas e geopolíticas. "Desde o início do processo que a decisão do Governo passou por dividir o Corredor do Lobito em duas concessões, uma para a ferrovia e outra para o terminal portuário", explicou, em resposta ao Expansão, Ricardo Viegas D"Abreu, ministro dos Transportes, à margem da inauguração oficial da operação da AGL no Porto do Lobito, que aconteceu no dia 27 de Março naquela cidade da província de Benguela.

O governante disse também que "o consórcio de empresas chinesas teve um período para concluir as negociações com o Governo, depois de ter vencido o concurso internacional, mas, apesar da insistência, resolveram desistir da concessão", garantiu Ricardo Viegas D"Abreu, naquele que é mais um episódio da corrida, alimentada pelas potências globais, aos recursos naturais essenciais para a transição energética, descarbonização e desenvolvimento de novos produtos.

Nas últimas décadas, sobretudo após 2002, várias empresas chinesas foram-se posicionando no Corredor do Lobito e naquela região. A própria reabilitação da linha férrea do CFB no pós-guerra foi realizada com financiamento daquele país. Esta realidade foi depois reforçada com a iniciativa "Nova Rota da Seda", promovida oficialmente pelo governo chinês, que prioriza um conjunto de investimentos globais em transportes (estradas, portos, ferrovias) e centros logísticos financiados ou apoiados pela China.

Com a presença local cimentada e as boas relações entre os dois governos (sendo que a China é o maior credor de Angola, que deve mais de 17 mil milhões USD àquele país), os investidores chineses esperavam garantir o envolvimento directo na gestão privada no Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB) e no principal terminal do Porto do Lobito.

O primeiro sinal contrário para os interesses asiáticos surgiu com a entrega, em Julho de 2022, da gestão do transporte de carga no CFB a um consórcio privado de origem ocidental, que inclui as multinacionais Trafigura, Vecturis e Mota Engil (ainda que mais de 30% do capital desta empresa esteja em mãos chinesas).

Este consórcio deu origem à empresa Lobito Atlantic Railway (LAR), que também já está em actividade. O despique entre interesses globais em território nacional não é novo, pelo contrário, é histórico e com vários séculos de acontecimentos, mas os desenvolvimentos geopolíticos mais recentes, incluindo a questão das alterações climáticas, acenderam vontades adormecidas ou colocadas em segundo plano ao longo dos últimos tempos.

Triplicar a produtividade

O Corredor do Lobito, que inclui o porto e o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), transformou-se num dos principais temas económicos do País devido às virtudes estratégicas. A linha férrea atravessa o território do Lobito (Benguela) ao Luau (Moxico) e pode servir de via de comunicação para vários países da região, que não têm acesso ao mar mas vivem da exportação de minerais e não só, como são os casos da Zâmbia ou Botswana, por exemplo, que utilizam sobretudo os portos de Moçambique, África do Sul, Namíbia e Congo Brazzaville.

Leia o artigo integral na edição 769 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)