Exportações afundam 3,2 mil milhões USD, importações crescem 810 milhões
A forte queda na produção de petróleo entre Janeiro e Junho traduziu-se num afundanço na exportação do "ouro negro", cujo sector vale 93% das exportações nacionais e que é a principal fonte de divisas do Tesouro Nacional. Menos vendas de petróleo aumentam o risco sobre a dívida soberana.
As exportações angolanas no I semestre foram fortemente afectadas pelo sector petrolífero e caíram 18% face ao mesmo período de 2024, ao passar de 18,4 mil milhões USD para 15,1 mil milhões USD, equivalente a menos 3,2 mil milhões. Já as importações estão a crescer, subiram 13%, mais 810 milhões face ao período homólogo, o que aliado à queda das exportações afundou o saldo da balança comercial em 52% para 7,9 mil milhões USD.
No I semestre do ano verificou- -se uma espécie de "choque" petrolífero na balança comercial, já que o País exportou menos 21,3 milhões de barris face ao período homólogo e a um preço médio substancialmente mais baixo, de cerca de 71 USD, menos 11 USD face aos 82 USD a que foram vendidos, em média, nos primeiros seis meses do ano passado, de acordo com cálculos do Expansão com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola (BNA). Esta é a principal consequência da queda da produção que se verificou no I semestre, ao passar de 204,6 milhões de barris para 186,0 milhões, mais uma vez um sinal de que o processo de travar o declínio da produção no País não está a produzir os efeitos desejados/anunciados.
Contas feitas, entre Janeiro e Junho, o sector petrolífero angolano (que também envolve o gás) exportou mercadorias no valor de 14,0 mil milhões USD, o que compara com os 17,3 mil milhões registados no período homólogo. Uma queda tão substancial nas receitas brutas deste sector, que é responsável por 93% das exportações angolanas e que é a maior fonte de divisas do Tesouro Nacional, faz disparar os "alarmes" no Ministério das Finanças numa altura em que o peso do serviço da dívida é elevado. Quanto maior é a queda nas exportações deste sector, mais cresce o risco de Angola, o que prejudica o recurso aos mercados financeiros internacionais para captar financiamentos a taxas de juro que não sejam incomportáveis para a sustentabilidade da dívida.
A queda nas exportações angolanas tem como principais "culpados" seis países, cujas compras de petróleo nacional diminuíram substancialmente face ao período homólogo. À cabeça está a China, o principal parceiro comercial de Angola, cujas compras encolheram 13%, equivalentes a menos 1,1 mil milhões USD, para 7,3 mil milhões USD. Segue-se a Espanha, que comprou menos 889,6 milhões USD, equivalente a menos 67%, para um total de 443 milhões USD. Já a Índia, que nos últimos anos tem sido o segundo maior destino do petróleo angolano, comprou menos 501,5 milhões USD, o que resulta de uma queda de 29% para 1,2 mil milhões USD. Destaque também para França (- -447,5 milhões USD), Brasil (- -362,2 milhões USD) e EUA (- -339,3 milhões USD). Juntos, compraram menos 3,7 mil milhões USD em petróleo angolano.
Ainda dentro do sector petrolífero, o afundanço na exportação de petróleo não foi acompanhado pelo gás, cujas vendas lá para fora renderam mais 488,4 milhões USD face ao mesmo período de 2024, para um total de 1,5 mil milhões USD.
A acompanhar a queda do sector petrolífero está igualmente o sector que o BNA cataloga como "outros sectores", mas que na prática são as áreas da denominada diversificação económica, onde se inclui a agro-pecuária, e os produtos da indústria transformadora. Neste I semestre, Angola exportou apenas o equivalente a 265,7 milhões USD destes sectores, o que configura uma queda de 21% face aos 334,7 milhões do período homólogo.
Por outro lado, as vendas lá para fora do sector diamantífero cresceram 14% para 808,1 milhões, mais 101,8 milhões do que no período homólogo. Isto resulta de um aumento de 99% nos quilates exportados, 7,8 milhões de quilates, ainda que o preço médio por quilate tenha diminuído 42% para cerca de 104 USD.
Importações a crescer
As compras de Angola ao exterior cresceram 810,1 milhões USD no I semestre para um total de 7,3 mil milhões USD. A importação de máquinas e equipamentos é a principal responsável por esse crescimento, já que foram importados mais 339,8 milhões USD em mercadorias. Segue-se os materiais de construção (+221,2 milhões para 857,4 milhões USD), produtos químicos e farmacêuticos (+146,7 milhões para 554,6 milhões), aeronaves e embarcações (+125,1 milhões USD para 143,1 milhões) e, por fim, bens alimentares (+108,0 milhões para 1,1 mil milhões USD). Por outro lado verificou-se uma diminuição de 341,1 milhões USD para quase 1,2 mil milhões USD na importação de combustível.
Contas feitas, entre exportações e importações, o saldo da balança comercial continua a ser favorável ao País, embora este saldo tenha encolhido 52% no I semestre face ao período homólogo, ao passar de 11,9 mil milhões USD para 7,9 mil milhões.
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