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Opinião

Indústria

Editorial

Parece claro hoje que a indústria só cresce com empresários comprometidos, versáteis na decisão e suficientemente resilientes para irem ultrapassando as dificuldades sem grandes desmotivações. Essa coisa de construir fábricas por encomenda das linhas de financiamento, com promessas que todos sabem que não se vão cumprir, com o Estado metido até ao pescoço, mostrou que não resulta. Seguem-se depois encerramentos rápidos, privatizações apressadas, e tudo com enormes custos para o Estado, pois para além de ter pagar as tais linhas de financiamento, acaba por retirar dinheiro a outros sectores que também não se desenvolvem.

Objectivamente não existem fórmulas mágicas para aumentar a competitividade e potenciar o crescimento da indústria em Angola. A uma semana do nosso IV fórum para este sector, que acontece na próxima sexta-feira, vamos recolhendo inúmeras opiniões que nos dão conta que já existem projectos de sucesso, apesar de todos os constrangimentos que o País e a actividade económica vivem. Será possivelmente sobre estes que se deve orientar o foco, especialmente para entender o que eles sentem, perceber de que se queixam, dar-lhes incentivos para que se tornem maiores e criar exemplos positivos nos mais diversos sectores.

Parece claro hoje que a indústria só cresce com empresários comprometidos, versáteis na decisão e suficientemente resilientes para irem ultrapassando as dificuldades sem grandes desmotivações. Essa coisa de construir fábricas por encomenda das linhas de financiamento, com promessas que todos sabem que não se vão cumprir, com o Estado metido até ao pescoço, mostrou que não resulta. Seguem-se depois encerramentos rápidos, privatizações apressadas, e tudo com enormes custos para o Estado, pois para além de ter pagar as tais linhas de financiamento, acaba por retirar dinheiro a outros sectores que também não se desenvolvem.

Nesta volta pelos industriais, percebemos que o mais importante mesmo é mudar o ambiente de negócios. E a isto juntam-se infraestruturas funcionais - a estrada de acesso ao Pólo Industrial de Viana, por exemplo, é uma vergonha - acesso a serviços básicos, menos burocracia, previsibilidade das principais variáveis macroeconómicas, fim das alterações constantes da legislação, controlo efectivo sobre as práticas de concorrência desleal (olhando bem para os últimos beneficiários das empresas), um quadro tributário adaptado à nossa realidade e uma postura equilibrada da AGT. A este propósito, diga-se, que praticamente todos os empresários se queixam da atitude predatória, e muitas vezes irresponsável, da Autoridade Tributária. Isto deveria merecer uma ampla discussão entre quem governa e quem investe, pois é um assunto de que todos falam nos corredores, mas que depois por medo de retaliações não entra nas declarações públicas.

A questão dos monopólios, da presença transversal de grupos económicos em muitos sectores, posição que na verdade não é ganha pelo mérito mas oferecida por estratégia pontual de quem decide, também não ajuda ao desenvolvimento da indústria em particular, e da economia em geral. Temos que ser capazes de oferecer as mesmas oportunidade a todos, ou pelo menos que essa ideia seja percebida, e que cada empreendedor tenha para si que também pode ter sucesso apenas pelo seu trabalho.

Estamos de acordo que a herança neste aspecto é muito pesada, a actividade económica estava na mão de meia dúzia de pessoas por decreto, mas não se pode voltar a cometer os mesmos erros. Não pode haver leis e controlo para uns, e uma estrada iluminada para outros. Porque senão, lá à frente, vamos voltar a pagar um preço muito elevado, pois quando o topo mudar, voltam os confiscos e as nacionalizações. E é preciso voltar a criar, novamente, outros grupos económicos. As empresas têm de ter bases sólidas e comportamentos decentes.