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Opinião

É preciso transformar os grandes importadores em "campeões" da produção nacional

MILAGRE OU MIRAGEM?

Acreditamos que o Executivo tenha uma lista dos grandes importadores por produto de consumo, pelo que o passo seguinte é desafiá-los a produzirem cá, ou fomentarem no País o surgimento de fornecedores locais, ou ainda fazerem deslocar para Angola, na forma de investimento directo estrangeiro, parte dos seus fornecedores. Notem que este processo de passar de importador para produtor, ou de desenvolvimento de fornecedores locais, ou ainda de deslocar para o país fornecedores externos é algo que não acontece simplesmente pelo livre arbítrio do mercado. Está enganado quem assim pensa! O Estado tem um papel importante a jogar.

A literatura económica mostra, por ex., através dos trabalhos do economista americano Albert Hirschman, na sua obra de 1988 "The Strategy of Economic Development", que as importações numa economia cumprem a importante função de facilitar a identificação da demanda por parte dos empreendedores locais. Por outras palavras, quando um dado produto é importado em altas quantidades, isto mostra aos agentes económicos domésticos que existe demanda, que pode e deve ser aproveitada. Mas então por que razão em Angola, apesar de serem altos os volumes de importação de produtos de consumo corrente, os agentes económicos não mostram vontade de tomar essa decisão que Hirschman achou ser racional, i.e., de produzir localmente o que se importa?

Das nossas conversas com diversos empresários demos conta que o chamado "lobby da importação" é um facto, contudo, é importante dizer que tal só acontece porque a governação teima em não condicionar essas importações, tal como aconteceu noutras realidades. A evidência empírica mostra que a transformação de uma economia passa também por uma mudança na composição das importações, i.e., reduzindo progressivamente a importação de bens de consumo corrente, passando a priorizar bens intermédios e de capital. Infelizmente em Angola, os dados dos últimos 10 anos, na Figura 1, mostram uma redução da importação de bens de consumo corrente, apesar da ligeira recuperação em 2022 devido às eleições gerais. Todavia, neste mesmo período verificamos a redução da importação de bens de consumo intermédio. Era esperado, neste contexto, que as importações de bens de capital pudessem aumentar por forma a permitirem a tão desejada substituição das importações. Apesar da recuperação depois de 2017, elas caem no ano seguinte e começam a recuperar timidamente depois de 2020, mas, ainda abaixo dos volumes de 2014.

Em nosso entender, a governação precisa de converter os actuais grandes importadores em "campeões da produção". Como assim? Ora bem, na edição 595 de 2020 escrevemos que o Executivo precisava ter "uma estratégia de complementaridade dos investimentos". Naquela edição falamos da inauguração no Pólo Industrial de Viana de uma fábrica de montagem de electrodomésticos (televisores, fogões, aparelhos de AC, geleiras), um investimento global de 15 milhões USD. Nós apresentamos este exemplo pela simples razão de os promotores deste investimento terem começado a actuar no mercado nacional como importadores e revendedores desses produtos. Eles mostraram que é sim possível transformar um grande importador em "campeão da produção", tal como eles fizeram. Abrimos aqui um parêntesis para dizer que eles ainda não deram o passo seguinte, que é o desenvolvimento de fornecedores locais de componentes, criando mais postos de trabalho em Angola e reduzindo a dependência nas importações.

Os actuais importadores de bens de amplo consumo devem seguir este mesmo caminho. Acreditamos que o Executivo tenha uma lista dos grandes importadores por produto de consumo, pelo que o passo seguinte é desafiá-los a produzirem cá, ou fomentarem no País o surgimento de fornecedores locais, ou ainda fazerem deslocar para Angola, na forma de investimento directo estrangeiro, parte dos seus fornecedores. Notem que este processo de passar de importador para produtor, ou de desenvolvimento de fornecedores locais, ou ainda de deslocar para o país fornecedores externos é algo que não acontece simplesmente pelo livre arbítrio do mercado. Está enganado quem assim pensa! O Estado tem um papel importante a jogar. Tudo começa por mostrar aos importadores que é insustentável a actual situação, dada a incapacidade de Angola gerar divisas suficientes, via petróleo, para pagar a alta dívida externa e manter o alto nível de importação de bens de consumo corrente. Pelo que, deve ser dado aos importadores um prazo fixo de conversão (3 anos). Notem que caso não forem essencialmente rentistas (empreendedores que buscam o lucro fácil e rápido) e se o Executivo criar um ambiente que favoreça essa mesma conversão, estes operadores económicos vão compreender que a continuidade e sustentabilidade dos seus negócios depende desta transformação.

Leia o artigo integral na edição 772 do Expansão, de sexta-feira, dia 19 de Abril de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)