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Opinião

Relação com a China

Editorial

Não é preciso ser especialista para perceber que a China está interessada que Angola se desenvolva e cresça, pelo menos até ao nível de poder ter saúde financeira para garantir os pagamentos e assumir outros projectos, sem que isso represente um risco para si. E eu penso também que os governantes angolanos já perceberam que a China tem muito mais para nos dar do que apenas dinheiro e trabalhadores para fazer estradas.

As relações com a China são muito importantes para o País, não apenas porque temos uma enorme dívida para pagar, e eles a receber, mas porque, efectivamente, têm muitas coisas para nos dar. Esta relação intensa que começou logo a seguir à assinatura do acordo de Paz, teve uma fase "de manda o teu dinheiro, as tuas empresas, que nós depois havemos de pagar". Foram abertas dezenas de linhas de crédito, centenas de financiamentos, sem que na verdade fossem exploradas as potencialidades que este país tem para oferecer aos países em desenvolvimento. Essa também nunca foi uma grande preocupação dos chineses, mas devia ter sido nossa.

À medida que a nossa produção de petróleo foi ficando comprometida com uma dívida cada vez maior, em momentos em que o preço por barril batia recordes históricos, no País viviam-se períodos de abundância, em que as elites desbaratavam os milhões que vinham em projectos megalómanos e caprichos sociais, que ainda hoje é difícil acreditar que aconteceram mesmo. Embora não existam dados oficiais, alguns estimam que Angola terá recebido da China, ao longo deste tempo, cerca de 45 mil milhões USD, quase um quarto do que esta nação terá emprestado a todos os países africanos.

Mas são apenas estudos independentes que suportam estes números, porque, como sabemos, a China sempre exigiu confidencialidade aos seus devedores. Acredito mesmo que se hoje quisermos saber com exactidão este valor não seria possível lá chegar, porque envolveu demasiados angolanos que também queriam confidencialidade, que faziam questão de não ter registos oficiais, porque não lhes convinha. Porque lhes dava jeito. Nem saberemos nunca ao certo para onde foi este imenso volume de dinheiro.

Chegados a 2024, o que está oficialmente registado é que devemos um pouco mais de 17,8 mil milhões à China. Nós temos um grande problema nas mãos, vai custar muito a todos pagar esta factura. Mas a China também tem um problema. A dimensão do valor justifica que os chineses se preocupem com a nossa economia, porque se na verdade não gerarmos riqueza não poderemos pagar.

E terá sido esta realidade que levou à alteração da postura da China relativamente ao dinheiro que nos empresta. Se no início não queriam saber onde gastávamos, que projectos estávamos a fazer, se eram rentáveis ou não, a única preocupação é que fossem as empresas a fazer essas obras para garantirem o retorno do dinheiro para a sua economia, há cerca de seis anos o discurso mudou. Agora também querem saber como estão a ser gastos os seus financiamentos.

Não é preciso ser especialista para perceber que a China está interessada que Angola se desenvolva e cresça, pelo menos até ao nível de poder ter saúde financeira para garantir os pagamentos e assumir outros projectos, sem que isso represente um risco para si. E eu penso também que os governantes angolanos já perceberam que a China tem muito mais para nos dar do que apenas dinheiro e trabalhadores para fazer estradas.

A China é hoje uma potência, tem um desenvolvimento tecnológico de topo, uma indústria ímpar, um sistema de educação robusto, uma posição forte no sistema financeiro mundial, e em crescendo, e uma importância geopolítica decisiva. Se não aproveitarmos isto, será um tremendo erro. Estamos num momento da História em que para nos desenvolvermos temos de nos preocupar mais com as contrapartidas que cada uma das nações fortes nos pode dar, do que propriamente estar a olhar apenas para alinhamentos internacionais. E não podemos virar as costas a nenhuma das grandes potências económicas. O que passou, passou. Vamos olhar para a frente! A prioridade do País é económica. Das convicções políticas falamos mais tarde.