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Opinião

O áudio da semana

Editorial

Esta semana ficámos a saber a maneira simpática e ternurenta como o ministro da Economia trata os seus colegas do Comércio, fazendo uso de uma forma de expressão muito popular e todos reconhecem como "uns bons bafos".

Imagino a alegria do séquito a ver o chefe a "comandar" a operação, na crista da onda com o fato de super-herói, a perguntar convictamente à senhora "mas a massa também é gaseificada?". Confesso que não pensava que estas reuniões eram tão animadas, e atrevo-me mesmo a sugerir que, em vez da TPA transmitir as sessões da Assembleia Nacional, passasse as reuniões do Prodesi, porque se isto era com a equipa do outro, calculo o tom quando é com a sua corte. A ironia, o bom gosto do tratamento pessoal, a componente motivacional, a experiência da liderança, está lá tudo num áudio de um pouco mais de 3 minutos.

A minha imaginação corre já em direcção a um imaginário em que o ministro dos Petróleos está a dar "uns bafos" ao ministro da Construção porque as estradas não permitem à Sonangol atingir os seus objectivos de vendas, em que o ministro da Agricultura teima em responsabilizar a ministra da Saúde pelo gado do Chade ter morrido. E todos eles, invocando a figura e capacidade do chefe, "vamos ver quem manda. Se são eles ou é o Presidente".

Imagino o gozo de quem gravou e "vazou" este áudio para as redes sociais, cirurgicamente partilhado nas plataformas dos jornalistas, um enorme divertimento. E confesso que até podia ser.
Se o ministro não estivesse a defender ideias que são contrárias aos acordos internacionais que o País assinou, nomeadamente na OMC. Se não houvesse nesta altura um ambiente de mal-estar nesta organização com Angola, inclusive foi apresentada uma queixa sobre as práticas proteccionistas implantadas pelo Governo, que são vistas como ilegais. Até poderia ter graça se os embaixadores dos principais parceiros comerciais não tivessem achado de enorme falta de senso estas palavras, alguns contactaram o Expansão, explicando que tinham enviado a gravação para os seus governos. Até poderia ter graça se não se tratasse de um ministro que representa o País e acaba por pôr em causa negociações que estavam a decorrer, fragilizando a imagem dos angolanos e alimentando a ideia de que "somos todos malucos".

A confiança é fundamental entre as pessoas pelo que não se entende bem as motivações de quem gravou esta "sessão". Não me parece que tenha sido feito de forma ingénua, mas também não terá atingido os objectivos a que se propunha. Fica também uma sugestão. A partir deste momento reuniões entre as equipas de governo iguais às festas dos futebolistas, todos deixam o telemóvel na porta da entrada. A questão que me vem à cabeça é o que terá pensado o ministro Victor Fernandes quando ouviu este som, pois não acredito que tenha estado presente. Não pode ter estado... ou estava?