Futuro da Angola Cables depende de um plano de reestruturação da dívida
A outra alternativa, de acordo com a direcção da empresa, passa por "deixarem a empresa crescer". Apesar das dificuldades, empresa de capitais públicos vai continuar a investir na internacionalização das suas operações.
O presidente da Comissão Executiva (PCE) da empresa de telecomunicações, Ângelo Gama, assumiu publicamente que o futuro da Angola Cables, uma entidade constituída maioritariamente por capitais públicos, está dependente do crescimento do volume de negócios e da reestruturação da dívida, avaliada em 230 milhões USD, contraída junto do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) e de um banco japonês.
"Quando os investimentos são pesados, o retorno não é imediato. Mas a realidade mostra que os nossos serviços são usados no dia-a-dia de todos os angolanos e de muitos cidadãos africanos. Temos uma garantia soberana, é verdade, e também é público que os nossos capitais próprios são negativos. Qual é a solução? Deixarem-nos continuar a crescer. Caso contrário, se há urgência em honrar a totalidade do financiamento, que nos permitam renegociar a dívida", disse Ângelo Gama durante um encontro com a comunicação social realizado na quarta-feira, 15, em Luanda.
O gestor angolano disse ainda que "a facturação da empresa tem crescido 20% ao ano" e que no final de 2024 contam duplicar as receitas face aos níveis de facturação registados há três anos. "O crescimento do EBITDA [lucros antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações] também tem sido constante", garantiu Ângelo Gama, embora não sejam conhecidos os relatórios financeiros anuais da Angola Cables.
"Eu também sou um funcionário, não sou o accionista principal (nem sou accionista da empresa sequer), sou meramente um colaborador responsável. Tudo o que eu faço tem o aval dos meus accionistas e eles não me permitem falar sobre as receitas", justifica o responsável da Angola Cables, empresa que em 2022 retirou do seu website oficial todos os relatórios financeiros publicados entre 2013 e 2019.
O referido financiamento de 230 milhões USD, contratado ao BDA e a uma instituição financeira japonesa, foi aplicado na instalação do cabo submarino que conecta Angola e Brasil (o SACS, que é totalmente detido pela Angola Cables) e resultou na emissão de uma garantia soberana que está em vias de ser accionada pelos credores, como reconheceu o Governo no Plano Anual de Endividamento (PAE) para 2024.
"Das garantias em carteira, encontram-se em risco de accionamento as emitidas a favor da Angola Cables SA por incumprimento", alerta o Governo no PAE, um documento publicado no início do ano para demonstrar as necessidades de financiamento e os desembolsos previstos para garantir a amortização da dívida pública.
De acordo com os dados publicados no referido documento, a garantia soberana entregue pelo Governo ao BDA está avaliada em 143.535 milhões Kz. No caso do Banco do Japão para a Cooperação Internacional (JBIC, na sigla em inglês), a garantia soberana atinge os 49.062 milhões Kz. No total, as duas garantias estão avaliadas em 192.597 milhões Kz, cerca de 230 milhões USD ao câmbio actual.
O capital da Angola Cables, uma entidade que foi criada em 2009 (com as operações a arrancarem apenas em 2013), está distribuído da seguinte forma: o accionista maioritário é a Angola Telecom com 51%, enquanto Unitel (31%), MSTelcom/Sonangol (9%), Movicel (6%) e Startel (3%) detêm as participações restantes. Actualmente, 95% do tráfego internacional de telecomunicações no País passa pelas suas redes.
A Angola Cables é uma multinacional angolana que actua em 20 países, emprega 150 trabalhadores e conta com cinco subsidiárias (África do Sul, Brasil, Nigéria, Portugal e Bermudas). De acordo com as informações da própria empresa, no ano passado o tráfego que passou pelas suas redes atingiu números que a colocam no Top 10 em África. "Angola não exporta apenas petróleo, também já exporta tecnologia", garante Ângelo Gama.