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BPC regressa aos lucros em 2023 com 13 reservas do auditor externo

APÓS SETE ANOS DE PREJUÍZOS

Embora tenha tirado as contas do "vermelho" e melhorado em muitos aspectos, o BPC levou novamente uma "chuva" de reservas do auditor, que voltou a não conseguir confirmar saldos referentes a crédito a clientes, veracidade dos planos e benefícios e a titularidade de imóveis.

Após sete anos consecutivos de prejuízos, o Banco de Poupança e Crédito (BPC) regressou aos lucros ao registar um resultado líquido positivo na ordem dos 115,9 mil milhões Kz, de acordo com as demonstrações financeiras sobre as contas de 2023. Os resultados do ano passado comparam com os de 2022, em que o maior banco público somou prejuízos de 120,4 mil milhões Kz. Com este resultado, as contas saem do "vermelho", mas com muitas dúvidas do auditor independente que levantou 13 reservas, ainda assim, uma a menos do que em 2022.

O maior banco público não disponibilizou o relatório e contas, mas apenas demonstrações financeiras, o que impede um olhar mais profundo às contas, mas na base deste regresso aos lucros, segundo fontes do banco, está o facto de o BPC ter concluído em 2022 a inscrição de imparidades relativas nos balanços relativos ao crédito malparado avaliado em cerca de 1 bilião Kz (que o banco diferiu em quatro exercícios financeiros desde 2019). "Um dos factores foi a redução significativa das imparidades de activos expostos ao risco de crédito e o fim do conhecimento das imparidades da carteira de crédito histórica", garantiu uma fonte ao Expansão.

Associado a isto, está também o aumento das margens obtidas sobretudo com os juros do crédito (como o dos adiantamentos de salários), que dentro da instituição é considerado crédito de "muito boa qualidade". Acresce a isto as comissões alcançadas com o investimento no aumento da circulação de TPAs e do número de ATMs da instituição bancária, bem como os ganhos com a posição cambial.

Entretanto, no balanço, o banco tem quase 1,4 biliões Kz negativos de outras reservas e resultados transitados, que no fundo é o acumulado dos prejuízos verificados nos anos anteriores, e só podem ser limpos com lucros. Só para se ter noção, o BPC vem de uma sequência de resultados negativos há sete anos: 21,7 mil milhões Kz em 2016; 73,1 mil milhões em 2017; 26,9 mil milhões em 2018; 404,7 mil milhões em 2019, 524,9 mil milhões em 2020, 83,2 mil milhões em 2021 e 120, 4 mil milhões em 2022.

Contas feitas, o maior banco público acumulou quase 1,3 biliões Kz de prejuízos desde 2016, de acordo com cálculos do Expansão, equivalente a 2.686,3 milhões USD à taxa de câmbio de fim de período de cada ano.

As sucessivas contas no "vermelho" do BPC resultaram essencialmente do reconhecimento de imparidades a que o banco estava obrigado, depois de a avaliação de activos (AQA) aos maiores bancos angolanos no final de 2019 solicitada pelo FMI ao BNA ter detectado necessidades de capitalização superiores a 1 bilião Kz no maior banco público. Como não havia capacidade para realizar esse aumento substancial de capital pelo accionista Estado, o BPC optou por diferir essas imparidades para os anos seguintes (10% em 2019; 30% em 2020; 30% em 2021 e 30% em 2022). É neste sentido que os responsáveis do banco admitiram que só um "milagre" faria com que o BPC regresse aos lucros antes de 2023.

Auditor volta a bater nas mesmas teclas

As demonstrações financeiras do exercício económico de 2023 foram alvo de várias dúvidas por parte do auditor externo. A Deloitte levantou 13 reservas sobre as contas do BPC, menos uma do que as inscritas no exercício de 2022. Incidem sobretudo sobre dificuldades em confirmar saldos, pelo que este não é apenas um problema do BPC, já que acontece com inúmeras outras instituições.

Destaque para as rubricas de "crédito a clientes" e "recursos de clientes e outros empréstimos", que segundo o auditor, apesar da melhoria verificada, até à data da avaliação, não obteve respostas, nem foi possível efectuar procedimentos substantivos alternativos para confirmar o saldo de 4,8 mil milhões Kz e os 18,7 mil milhões Kz, respectivamente, verificados em 2023.

Outra reserva levantada tem a ver com os activos tangíveis (essencialmente, os imóveis e terrenos), que de acordo com o parecer do auditor, este ano o banco iniciou um projecto de levantamento de avaliação e inventariação dos imóveis, mas que até à data da auditoria não conseguiu obter "informação de suporte sobre a titularidade dos bens, evidência de procedimentos de análise de indícios de imparidade e análise periódica de bens que se encontrem disponíveis para uso, de forma a proceder à sua transferência para imobilizado firme".