Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Grande Entrevista

"Angola ainda não tem peso para pressionar multinacionais a a nível de preços"

NUNO CARDOSO, PRESIDENTE DA ANIFA

O presidente da Associação Nacional da Indústria Farmacêutica de Angola defende a obrigatoriedade do registo de medicamentos no País para regular o mercado, que dependente exclusivamente da importação de fármacos. Medicamentos estão a ficar mais caros devido à conjuntura mundial.

A indústria farmacêutica nacional é dependente do mercado externo, numa altura em que se fala da necessidade de dinamização da produção. Que avaliação faz ao sector?

O nosso País não tem produção de medicamentos. Existe a presença da indústria farmacêutica internacional e, nos últimos anos, tem havido mais interesse destas empresas em investir em Angola. Entre os anos 2015-2016, havia muitas empresas a apostar aqui, mas com a crise agravada pela Covid- -19 acabaram por desinvestir. E, no último ano, tem-se assistido a algum interesse de multinacionais, algumas delas a regressarem e outras, novas, a promover os seus medicamentos.

Este interesse demonstrado por multinacionais tem-se concretizado?

Tem havido empresas que têm efectivamente investido e há outras que estão a olhar para Angola como um país onde vão investir nos próximos meses. Empresas que nunca cá estiveram e estão a preparar-se para vir cá investir, não para produzir os medicamentos localmente, mas para, no fundo, transmitir ou trazer os seus medicamentos. Porque, neste momento, é o que as empresas da indústria farmacêutica fazem, porque ainda não produzem localmente.

O que falta para produzir localmente os medicamentos?

Faltam várias coisas. Há questões básicas que não dependem directamente do Ministério da Saúde, que o País tem de agilizar, e que tem de garantir a essas empresas. Estamos a falar da qualidade da água, que tem de ser garantida de uma forma constante, e electricidade, que é essencial. Para se ter produção de medicamentos num país não pode haver falhas constantes de electricidade. Estes são dois pontos essenciais. Estas questões têm vindo a melhor nos últimos anos, mas ainda existem falhas e não podemos escondê-las. A nível regulatório, já existe muita legislação, mas é preciso operacioná-la. Temos aqui alguma falta de meios humanos nas autoridades farmacêutica, nomeadamente na Agência Reguladora de Medicamentos e Tecnologias de Saúde (ARMED) e no Ministério da Saúde. Há necessidade de investir em quadros técnicos capacitados, já existem alguns bem capacitados, mas ainda são poucos

No cenário que descreve não é possível produzir medicamentos?

É importantíssimo que Angola, para ser independente do resto do mundo, tenha um laboratório de análise dos produtos farmacêuticos. Neste momento, para aferir a qualidade de um fármaco sobre o qual o Ministério da Saúde ou a ARMED tenha suspeitas, quanto à sua qualidade, o medicamento tem de ser enviado para África do Sul ou para outro país para ser analisado e demora algum tempo até obter resultados. No decorrer deste tempo, o produto continua à venda e isso não é positivo para o nosso mercado. Sem esquecer a parte financeira, porque este processo fica mais caro.

É isto que condiciona a produção nacional?

Temos de analisar as empresas que produzem medicamentos e estudar se é mais barato produzir em Angola ou se, eventualmente, é mais barato produzir noutras paragens e importar. Se formos ver a realidade, a nível mundial, nem todos os países produzem medicamentos. Muitas multinacionais têm fábricas em países que não os seus. Esta equação o Estado também tem de fazer. Temos de ver preços. Se o preço do medicamento para o paciente fica mais barato produzindo em Angola ou fora de Angola. Produzindo aqui teremos de importar a matéria-prima e, por incrível que pareça, pode ser mais caro o custo de produção no nosso País do que importar. Isto depende de medicamento para medicamento.

Ao produzir fora não estaríamos a penalizar a indústria nacional?

Não temos uma indústria nacional de medicamentos. Noutras áreas, como a dos gastáveis, já existem algumas unidades industriais na área da saúde, mas não de medicamentos. A questão do medicamento implica condicionantes a nível mundial que nem sempre produzir localmente é a melhor opção. No entanto, havendo condições acho que faz todo o sentido o Executivo criar mecanismos para os investidores virem para o nosso País. Para o País também é bom ter fábricas de medicamentos. Mas temos de estudar se é vantajoso financeiramente para quem quiser investir numa fábrica em Angola.

É isto que condiciona a subvenção dos medicamentos?

A subvenção é uma questão que o próprio Estado tem de resolver. Acho que faz sentido principalmente para doenças crónicas e doenças que matam. Acho que o Ministério da Saúde deve, de alguma forma, criar um sistema que permita esta subvenção. E que em alguns medicamentos haja comparticipação, algo que infelizmente não existe no nosso País. Mas, para isso acontecer, o Estado também tem de recolher receitas. E uma das formas de arrecadar receita poderá ser com o registo de medicamentos, que estão na berlinda e que vão começar em breve. Poderá ser a primeira forma de o Estado ir se financiando pela própria indústria farmacêutica para, depois, conseguir subvencionar os medicamentos à população.

(Leia o artigo integral na edição 701 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Novembro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo