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Grande Entrevista

"Temos sentido os efeitos das penalizações à Rússia"

BENTO AUGUSTO, PROJECTO DIAMANTÍFERO YETWENE

A conversa com o gestor angolano abordou uma perspectiva mais de gestão empresarial em tempos de crise, que também afecta o sector diamantífero global, actualmente a enfrentar preços baixos e despiques geo-estratégicos por quota de mercado.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia provocou alterações globais, com diversos efeitos, mas Angola continua a apostar no aumento da produção de diamantes. Nos próximos meses, que evolução esperam?

A esperança universal é que os preços dos diamantes voltem pelo menos à normalidade. Está a ser um exercício muito difícil porque a situação actual já se arrasta há algum tempo. Muitas vezes os fenómenos que ditam esses movimentos são desconhecidos ou, pelo menos, não são uniformes. Também há vozes que dizem que os preços baixos estão relacionados com o surgimento em grande escala dos diamantes de laboratório.

É outra realidade que pode causar grandes mudanças nos sector dos diamantífero.

Certo, são muitos os estudos que estão a ser feitos e os resultados não estão a ser uniformes. Estes fenómenos, muitas vezes, transcendem o nosso conhecimento. Infelizmente, nós como empresa temos de aceitar a realidade e tentar criar soluções céleres e eficazes para darmos resposta, porque as necessidades são contínuas. Eu digo sempre que as necessidades não têm olhos, nem sensibilidade, não querem saber se agora o combustível subiu, se há guerra. Nós achamos que é possível resistir e vamos aumentar os níveis de produção para que, mesmo com preços baixos, consigamos garantir a saúde financeira da empresa. É o que temos feito.

É público que Catoca não comercializou diamantes durante algum tempo devido aos baixos preços. Também aplicaram essa estratégia?

Consignar produções não, não fizemos isso. No momento inicial, se calhar, tinha sido recomendável. Mas a esperança de que os preços iam subir num curto espaço de tempo era maior. Não conheço a empresa por dentro, mas Catoca tem outra dimensão. Provavelmente tem uma margem maior para aguardar por preços mais apetecíveis.

No caso de Catoca há também um debate sobre a participação da Alrosa, mas a preponderância russa no sector diamantífero nacional vai para além disso. Os russos são tradicionais fornecedores de financiamento, maquinaria, tecnologia e assistência técnica. A Yetwene possui algum parceiro ou fornecedor de origem russa?

A Yetwene tem parceiros bem identificados e conhecidos: a Mountain Stability, uma empresa angolana, que é a investidora. A sua fonte de financiamento é a actividade de venda de diamantes. Temos outros parceiros como a Endiama, por exemplo, que é uma empresa muito conhecida. Então não temos relações com entidades russas e não estou aqui a apartar-me. O mesmo diria se me perguntasse se temos uma relação com, por exemplo, australianos. Também não temos porque é a verdade, não temos.

Não têm sentido os efeitos da influência russa no sector dos diamantes?

Sentir directamente não, se calhar indirectamente sim, é um sentimento global no sector. Na nossa realidade doméstica, sentimos os efeitos das penalizações à Rússia porque o que afecta a estrutura global, acaba por afectar também aqui o escalão de baixo, a verdade é essa. Mas também penso que os impactos são bifacéticos - há sempre algo positivo a retirar destes contextos. Sobre a participação directa ou indirecta da Rússia no mercado angolano, penso que o assunto está a ser resolvido nos fóruns próprios. Não somos parte directa, nem voz autorizada, mas também temos tido acesso a algumas informações.

Uma eventual saída da Alrosa de Catoca é algo que vos preocupa e que pode ter alguma influência no sector em geral?

Eu tenho a minha opinião pessoal, não corporativa, e gostava de continuar a falar nas vestes da Yetwene. Essas questões estão a ser resolvidas politicamente, penso que é isso que está a acontecer. A realidade de Catoca é muito diferente da nossa. Em termos de participação, o nosso capital é 100% nacional.

Ainda ao nível do mercado internacional, a competição exacerbada entre potências globais tem aumentado os despiques por quota de mercado em vários sectores. Os principais clientes dos diamantes angolanos estão agora no Dubai e na Índia?

Às vezes, fica muito complicado conhecer o destino final, mas os clientes que têm comprado a nossa produção estão nessas paragens.

Sim, receio temos, todas as empresas que operam na exploração têm algum receio porque traz mais concorrência. E é uma concorrência que me parece desleal, porque o custo de produção dos diamantes sintéticos é muito mais baixo e isso dita muito o preço final. As pessoas compram a um preço muito mais baixo e se calhar com uma qualidade muito semelhante. É preciso olhar ao detalhe para os produtos para aferir que não são diamantes naturais.

Também há um discurso ambiental à volta dos diamantes sintéticos que acaba por politicamente ter muita força.

Muita força não creio, até porque uma das exigências legais para a nossa actividade passa por respeitar o meio ambiente. Só o termo extracção já denota que há degradação do ambiente.

Historicamente, o sector não tem um bom registo na recuperação das áreas de exploração abandonadas, por exemplo.

Essa é uma questão, entre outras. Mas é uma questão essencial nos projectos mineiros em geral. As minas têm um período de vida e há muitos maus exemplos pelo mundo fora quando as áreas são abandonadas. Infelizmente, os seres humanos estão mais interessados na exploração, não com a conservação da natureza.

Leia o artigo integral na edição 777 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Maio de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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