Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Alto desemprego e alta inflação fazem aumentar o sofrimento económico dos angolanos

MILAGRE OU MIRAGEM?

Em Angola o sofrimento económico dos jovens entre os 15 - 24 anos é o mais expressivo, tendo uma média, no período em análise, de 80,4%. Apesar da ligeira melhoria em 2022 este sofrimento teve uma aceleração rápida de 22,8 pp situando-se neste I trimestre nos 89,6%, gráfico 3. Este dado ajuda a entender a saída em massa de jovens para outros países (nomeadamente Portugal) na busca de oportunidades que em Angola não conseguem ter.

Recentemente o INE divulgou a sua Folha de Informação Rápida sobre o mercado de trabalho no I Trimestre. A boa notícia é que reduziu o número de pessoas empregadas no sector informal, agora 79.8% contra 80,5% no IV trimestre de 2023. Lamentavelmente, o desemprego aumentou de 31,9% no IV trimestre de 2023 para 32,4% no 1 trimestre deste ano. Pior do que isso foi verificar que o desemprego juvenil, dos 15 aos 24 anos, naquele período em que os jovens estão a tentar inserir-se no mercado do trabalho, muitas vezes depois de terminar a sua formação inicial, aumentou de 58,3% para 63,5%.

Estes dados por si só, deveriam fazer com que a governação reconsiderasse a sua estratégia de fomento do emprego no País. Alto desemprego num contexto em que apesar das medidas adoptadas pelo banco central o custo de vida continua a aumentar, dados do INE mostram que a inflação mensal passou de 2,49% em Janeiro para 2,61% em Abril e a homóloga de 21,99% em Janeiro para 28,2% em Abril, obrigou-nos a recorrer a um índice quem por meio de cálculos simples, adiciona dois indicadores (desemprego e inflação), captura as dificuldades económicas sentidas pelos cidadãos, i.e., o "Índice de Sofrimento (Económico)".

O que é o "Índice de Sofrimento (Económico)"? Trata-se de um índice considerado não oficial inventado pelo economista norte-americano Arthur Okun nos anos 70 enquanto pesquisador do Brookings Institution. Segundo informa o website desta instituição, Arthur Okun foi antes professor na Universidade de Yale e membro do Conselho de Consultores Económicos do Presidente norte-americano Lyndon B. Johnson. Este índice tem sido criticado por não incluir dados relacionados com o crescimento económico. Outra crítica tem a ver com o facto deste índice ser muito mais usado em períodos de crise do que naqueles períodos em que as coisas até vão bem. Contudo, é preciso compreender que quando fazemos uso deste índice o que queremos mostrar é a "dor sentida pelo cidadão" e não medir o desempenho da economia como tal (para isso existem outros indicadores).

Para o caso de Angola, calcular este índice acaba por ser interessante já que o actual contexto, caracterizado por alta inflação e alto desemprego, é contrário ao que diz a teoria económica. Por ex., a chamada curva de Phillips sugere a existência de uma relação inversa entre a inflação (aumento de preços) e o desemprego. Por outras palavras alta inflação subentende-se baixo desemprego. Porém, isso não se verifica em Angola, hoje observamos um cenário de alta inflação (homóloga de 28,2% em Abril) e alto desemprego principalmente para a juventude (15 -24 anos, 63,5%).

Para calcular o "Índice de Sofrimento" somamos a taxa de desemprego, publicada pelo INE com a inflação dos últimos 12 meses. Para o I trimestre foi a taxa de inflação divulgada em Abril somada à taxa de desemprego do trimestre. Uma vez que não encontramos no website do INE os dados do emprego (e desemprego) de todos os trimestres desde 2020 (ou antes), optamos por nos focar em analisar o Índice de Sofrimento no final do IV trimestre desde 2020, altura em que Angola e o mundo viveram a pandemia da Covid- -19. No gráfico 1 podemos ver uma queda do sofrimento económico em 2022, o que não é surpresa se tivermos em conta que se tratou de um ano eleitoral. De lá para cá, o sofrimento económico dos angolanos aumentou em 15 pontos percentuais (15 pp) saindo de 43,5% para 58,5%. O actual sofrimento económico afecta a todos (homens e mulheres) porém, os dados mostram que as mulheres em Angola sofrem em média um pouco mais do que os homens (1,16 pp acima, gráfico 2). Este facto deve servir para encorajar a governação a tomar medidas que contribuam para uma melhor inserção das mulheres no mercado de trabalho.

Em Angola o sofrimento económico dos jovens entre os 15 - 24 anos é o mais expressivo, tendo uma média, no período em análise, de 80,4%. Apesar da ligeira melhoria em 2022 este sofrimento teve uma aceleração rápida de 22,8 pp situando-se neste I trimestre nos 89,6%, gráfico 3. Este dado ajuda a entender a saída em massa de jovens para outros países (nomeadamente Portugal) na busca de oportunidades que em Angola não conseguem ter.

Leia o artigo integral na edição 778 do Expansão, de sexta-feira, dia 31 de Maio de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo