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Opinião

O Investimento Directo Estrangeiro e a falta de quadros

CONVIDADO

A fraca produtividade da força de trabalho dos países em desenvolvimento é tida como o principal constrangimento enfrentado pelas empresas globais que pretendem investir na indústria transformadora, sobretudo, de África. A qualidade de ensino dos países do nosso continente é considerada inferior à de outras regiões do mundo.

A falta de quadros tem sido apontada como relevante constrangimento à concepção, implementação e operacionalização de projectos e iniciativas empresariais fundamentais para a materialização dos desígnios da estratégia de desenvolvimento económico e social do país. Alega-se, amiúde, que não dispomos de suficiente número quadros. O sistema de educação e de desenvolvimento de competências é tido como os factores de causa do défice interno de capital humano que é susceptível de inibir o tão esperado e necessário investimento directo estrangeiro (IDE).

O Paradigma Eclético, OLI (em inglês: Ownership, Location, and Internalization), de Jonh H. Dunning, é, alegadamente, o referencial teórico mais utilizado para explicar o IDE. A decisão de internacionalização, nesse modelo, sustenta- -se na avaliação, pelas empresas, das vantagens inerentes à posse, localização e internalização.

A qualidade da força de trabalho é considerada na análise e avaliação das vantagens de localização inerentes ao país de destino do IDE e reflecte, de um modo geral, o resultado do seu sistema de educação e desenvolvimento de competências (skills). A fraca produtividade da força de trabalho dos países em desenvolvimento é tida como o principal constrangimento enfrentado pelas empresas globais que pretendem investir na indústria transformadora, sobretudo, de África. A qualidade de ensino dos países do nosso continente é considerada inferior à de outras regiões do mundo.

A falta de capital físico complementar e o desalinhamento entre nível de educação e habilidades das pessoas em idade activa e as necessidades dos empregadores constituem outros aspectos que impactam adversamente sobre a produtividade da força de trabalho em referência. Portanto, materializar os desígnios inerentes à atracção de investimento directo estrangeiro implica, entre outros aspectos, melhorar o desempenho do sistema de educação e ensino no sentido de "produzir" para o mercado de trabalho quadros com competências ajustadas às necessidades, interesses e expectativas dos diferentes agentes económicos.

O défice de competências pode ser, igualmente, suprido por via de políticas migratórias que atraiam para o país pessoas com as qualificações necessárias para o esforço de desenvolvimento do país, como acontece em várias geografias.

Na Austrália, a Comissão Nacional de Competências revê e actualiza as necessidades nacionais de competências e publica anualmente o quadro de competências prioritárias e caracteriza a situação corrente de cada ocupação profissional (escassez ou não escassez), assim como a procura futura de cada uma delas (procura forte, moderada ou fraca)(1).

A África do Sul elabora, igualmente, desde 2014, uma lista de competências críticas(2) e empreendeu, a partir da década de 90 do ano passado, um grande esforço para o desenvolvimento de competências de liderança e de gestão, para colmatar a grande lacuna existente, na altura, no seio da população negra, como consequência directa do regime do apartheid que vigorou até aquele período. Não foi apenas um esforço do Governo. As grandes empresas, as associações profissionais e empresariais engajaram-se fortemente neste processo (i) implementando programas avançados de gestão(3); (ii) enviando profissionais para o exterior para frequentarem cursos de alto nível em desenvolvimento de competências de liderança; (iii) estabelecendo, em 2010, o Conselho de Desenvolvimento de Recursos Humanos, afecto ao Ministério do Ensino e Formação Superior, presidido pelo vice-presidente da República e integra membros do governo, vice-reitores de universidades, PCEs de grandes empresas e líderes de várias federações sindicais(4).

A Etiópia também conseguiu superar o elevado défice de competências prevalecente no estágio inicial de desenvolvimento do sector da floricultura, em que havia pouco conhecimento sobre vários domínios inerentes ao mesmo, adoptando as seguintes medidas:

¦Implementação, pela Agência Etíope de Desenvolvimento Hortícola, do Programa Integrado de Capacitação, para apoiar as fazendas geridas por etíopes nos aspectos relevantes do negócio, incluindo a produção, o manuseamento do produto, gestão de fazendas e gestão financeira;

¦Como resultado do loby da Associação Etíope de Produtores e Exportadores de Horticultura, a Universidade de Jima passou a oferecer cursos de graduação e pós-graduação em horticultura, o que alterou a situação ao ponto de a maior parte das fazendas detidas por nacionais passarem a ser geridas por Etíopes . Para colmatar a insuficiência de experiência prática do referido programa de formação, foi fundado pelo Governo, o Centro de Treinamento Prático de Horticultura para leccionar aulas práticas e técnicas aos recém-licenciados. Os programas de formação da Associação Etíope de Produtores e Exportadores de Horticultura são, de uma maneira geral, dirigidos aos trabalhadores das fazendas e incidem sobre vários aspectos práticos, incluindo a utilização segura de químicos e outros aspectos de segurança do ambiente de trabalho.

Leia o artigo integral na edição 777 do Expansão, de sexta-feira, dia 24 de Maio de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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