Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Análise

Mundo a Caminho da Estagflação

Análise

A "guerra fria" sino-americana está apenas no início, ameaçando fragmentar a economia global. E as mudanças climáticas já estão a perturbar a agricultura e a causar subidas nos preços dos alimentos. Angola já se encontra em "estagflação" há alguns anos e tanto nos EUA como na Europa estamos a caminho.

Desde que a crise pandémica se instalou, temos assistido a uma crescente inflação, a qual tem triturado o poder de compra dos cidadãos. Contudo, aos poucos, os investidores estão lentamente a acordar para a percepção de que existe um outro problema para o qual estamos a caminhar: a "estagflação".

Durante anos, o termo "estagflação" foi usado e descrito como um evento do tipo "cisne negro", uma referência a efeitos inesperados que geralmente causam reacções desproporcionais. Isto porque a "estagflação" é caracterizada por um crescimento económico lento, acompanhado de um elevado desemprego, e simultaneamente, uma subida dos preços, ou seja, inflação.

Alternativamente, a "estagflação" pode ser definida como um período de inflação combinada com um declínio no produto interno bruto (PIB). Muitos acreditam que a "estagflação" é impossível - existem várias teorias económicas que dominam os círculos académicos, e que afastam a possibilidade de haver crescimento económico lento e inflação alta ao mesmo tempo -, mas a verdade é que estamos num momento único em termos económicos para que um fenómeno como este possa acontecer.

Mas vamos por partes. A inflação é transitória ou não? A inflação é um problema resultante do desequilíbrio entre a oferta e a procura. O crescimento de massa monetária emitida pelos bancos centrais aumentou o endividamento global, originando uma subida de preços no sector imobiliário, a que acrescem razões estruturais como salários mínimos mais altos e um comércio internacional menos dinâmico (a designada "desglobalização", provocada por conflitos geopolíticos, guerras comerciais, Brexit, etc.). Além disso, devido à paralisação económica, as instalações de produção e manufactura não conseguiram atender ao aumento da procura.

Naturalmente que o resultado foi o aumento dos preços dos bens e serviços disponíveis para fazer face à gigantesca procura. Até há bem pouco tempo, a Reserva Federal norte-americana (FED) e o Banco Central Europeu (BCE) vinham adoptando uma visão mais flexível da inflação, considerando-a algo "transitório". Ambos definiram um objectivo de inflação à volta dos 2% em média, permitindo assim que a inflação pudesse ir acima desse valor, sem que fosse necessário intervirem.

Contudo, quando a inflação nos EUA atingiu os 7% e na Europa os 5%, quer a FED, quer o BCE, assumiram que esta inflação, afinal, não era "transitória". Se compararmos com a evolução de preços em Angola, percebemos rapidamente que o problema da inflação sobressai. De seguida, ambos os Bancos Centrais anunciaram que Março seria o mês escolhido para o fim dos programas de compra de activos, e no caso norte-americano, espera-se que a FED comece também a subir as taxas de juro. É certo que a subida das taxas de juro e o fim dos estímulos reduzirão a pressão compradora na economia, e desse modo, a pressão ascendente na inflação será menor.

Contudo, isso não garante que a inflação inverta, pois, do lado da oferta, provavelmente continuarão a persistir no médio e no longo prazo, choques negativos. Pelo menos alguns já podem ser identificados. Para começar, há uma crescente tendência de desglobalização e proteccionismo, balcanização e reajuste de grandes cadeias de abastecimento, como está a acontecer com o actual conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia.

Continuaremos, para além disso, com o envelhecimento demográfico das economias avançadas e dos principais mercados emergentes. A "guerra fria" sino-americana está apenas no início, ameaçando fragmentar a economia global. E as mudanças climáticas já estão a perturbar a agricultura e a causar subidas nos preços dos alimentos. Além disso, contínuas pandemias globais levarão inevitavelmente a mais autossuficiência nacional e a controles de exportação de bens e materiais essenciais.

A guerra cibernética está a interromper cada vez mais a produção, embora o seu controle seja muito caro, e a reacção política contra a desigualdade de riqueza está a levar autoridades fiscais e regulatórias a implementar políticas que fortaleçam o poder dos trabalhadores e dos sindicatos, pavimentando o caminho para acelerar o aumento dos salários.

(Leia o artigo integral na edição 666 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo