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Angola

Vendedoras do Calemba 2 resistem mudar para mercado das Chapas Vermelhas

ADMINISTRAÇÃO DO MERCADO IDENTIFICA FISCAIS QUE COBRAM "GASOSA" PARA FECHAR OLHOS A VENDA NA RUA

Com capacidade para albergar 2.500 vendedoras, o mercado das Chapas Vermelhas está "às moscas". Apesar da ordem de saída, vendedoras do Calemba 2 preferem pagar aos fiscais para fecharem os olhos à sua permanência na rua. Na Machado Saldanha, proprietários das lojas criticam GPL por encerrar estabelecimentos sem lhes dar tempo para se organizarem.

A transferência do comércio de rua no Calemba 2 para o mercado das Chapas Vermelhas, no município do Kilamba KIaxi, está a ser dificultada pelos fiscais municipais, que estão a aliciar as vendedoras com a promessa de fechar os olhos à sua permanência no local, a troco de quantias entre os 100 e 200 kz por dia. A situação já chegou ao conhecimento da administração da praça das Chapas Vermelhas, que está a fazer um levantamento dos agentes infractores. O director do Gabinete Provincial de Luanda para o Desenvolvimento Económico e Integrado já tem na sua posse gravações de fiscais a aliciar vendedoras, constatou o Expansão.

A transferência das vendedoras para a praça das Chapas Vermelhas, localizada no bairro da Sapu, começou há duas semanas. Mas o espaço, com capacidade para 2.500 vendedoras, segundo o site oficial do GPL, está praticamente "às moscas". A maioria das comerciantes prefere vender na rua, "em locais impróprios", em vez de mudar, uma vez que "beneficia" da protecção dos fiscais do município do Kilamba Kiaxi.

Lando Luísa, de 70 anos, uma das vendedoras que já mudou para o mercado das Chapas Vermelhas, acusa os fiscais de protegerem as comerciantes que "fazem venda desordenada" nas ruas do Calemba 2.

"Já não sei o que o GPL quer connosco! Colocaram-nos a vender no interior do mercado para impedir a venda desordenada, mas outras vendedoras exercem as suas actividades comerciais de forma desordenada e ninguém as pune! Isso prejudica-nos, porque estamos a perder muito dinheiro. Os clientes param todos na rua e são impedidos de chegar aqui", revelou Lando Luísa.

Dar má imagem à cidade

Joana Maria, de 37 anos e vendedora há 4 anos, reforça o que disse Lando Luísa, mas considera que "é necessário castigar severamente" quem continua a vender nas ruas e está a "dar uma má imagem à cidade de Luanda".

O administrador adjunto do mercado das Chapas Vermelhas, Alves Luís Zua, lamenta o facto de os fiscais serem cúmplices na venda desordenada, uma vez que a sua função é impedir que isso suceda. "São os fiscais que permitem que estas senhoras vendam nas ruas, porque no fim do dia recebem delas "algumas gorjetas" para os seus agrados pessoais. Isso é muito triste", lamentou o responsável, acrescentando que já foi identificado o grupo de fiscais que anda a cobrar "gorjetas".

O director do Comércio do município do Kilamba Kiaxi, João dos Santos, diz desconhecer a actuação irregular dos fiscais que trabalham para a administração municipal. Promete, no entanto, entregar à justiça os que estiverem envolvidos nestas práticas. O Expansão sabe que já chegaram às mãos do director do Gabinete Provincial de Luanda para o Desenvolvimento Económico e Integrado, Dorivaldo Adão, vídeos que mostram fiscais a subornar vendedoras.

O programa de reordenamento do Comércio foi lançado em Janeiro de 2023 para melhorar o tráfego, a mobilidade urbana e fazer com que os comerciantes desenvolvam a sua actividade devidamente organizada e legalizada.

Vendedores indignados na Machado Saldanha

Enquadrado também no Programa de Reordenamento do Comércio, o Governo Provincial de Luanda ordenou o encerramento das lojas de motores na Avenida Machado Saldanha, no distrito urbano do Neves Bendinha, e que servem de apoio às oficinas da zona.

Os vendedores, todos de origem nigeriana, opõem-se ao encerramento. Alegam que desde que encerraram as lojas muitos jovens angolanos ficaram sem emprego e que eles, como donos das lojas, estão a perder dinheiro e não conseguem pagar impostos.

"Há mais de dois meses que o GPL nos mandou fechar as lojas e até ao momento não há informação onde nos vão colocar. Fomos forçados a despedir muitos jovens e alugámos um armazém, onde guardamos os motores, que mensalmente nos custa 150 a 300 mil kz. Temos famílias para sustentar, despesas para pagar", lamentou Júlio Gabriel, porta-voz dos vendedores de motores da Machado Saldanha.

Leia o artigo integral na edição 768 do Expansão, de sexta-feira, dia 22 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)